Hino nacional continua causando discórdia

Arquivado em:
Publicado Segunda, 01 de Agosto de 2011 às 01:53, por: CdB

O Hino Nacional da Suíça, que será cantada por todo o país como parte da comemoração do Dia Nacional da Suíça, só se tornou o hino oficial do país há 30 anos.

Alguns suíços criticam a canção, composta há 170 anos atrás, por ser "muito século 19" e por ignorar as mulheres.

O hino, que começa com as palavras "Radiante no céu da manhã", foi aprovado oficialmente em 1° de abril de 1981, sendo o hino provisório desde 1961.
 
Mas a composição original do “Salmo Suíço”, como é conhecido, remonta muito mais longe, em 1841, e comemora assim um tipo de "triplo aniversário" este ano.
 
A letra original, composta por Alberich Zwyssig, compositor e padre de Uri (centro), se encontra na Biblioteca Nacional da Suíça, que acaba de publicar uma versão on-line.
 
"A música foi escrita para um salmo, mas quando Zwyssig recebeu um texto de um amigo comemorando a Suíça, ajustou-o para ir com a música", explica o porta-voz da biblioteca Hans-Dieter Amstutz à swissinfo.ch.
 
Em 1843, quatro versetos com letra de Leonhard Widmer, de Zurique, haviam sido entoados no Concurso Federal de Coro da Suíça, em Zurique. Mais tarde, a versão original em alemão foi traduzida para o francês, o italiano e o romanche.

Hino rival

"Assim, antes de ter se tornado hino, era uma música já bem conhecida em todo o país. Não foi nada artificial", diz Amstutz.
 
Inúmeras tentativas foram feitas entre 1894 e 1953 para que seja declarado  hino oficial, mas o governo recusou-o, argumentando que a decisão deveria ser dada pelo público e não pelas autoridades.
 
Um outro problema foi causado pela canção "Quando nos chama, Pátria", que era tradicionalmente tocada em cerimônias políticas e militares. Era, no entanto, executada com a mesma melodia do hino nacional britânico "God Save the Queen",  causando às vezes um certo constrangimento diplomático.
 
Isso levou o Salmo Suíço, considerado totalmente suíço, a ser declarado hino provisório e, mais tarde, oficial.

Um monumento ao compositor Zwyssig, em Uri (Keystone)

Identidade

Hoje em dia, o hino parece provocar sentimentos muito opostos.
 
"É parte da nossa identidade e também parte da nossa história, já que se tornou hino nacional como resultado de um longo processo", conta Martin Baltisser, secretário-geral do Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão), que conclui:
 
"Isso é importante para o nosso país e para o que somos."
 
No entanto, uma pesquisa de opinião realizada no mês passado pelo instituto DemoSCOPE revelou que quase metade, 44%, dos entrevistados não sabia a letra do primeiro verso.
 
Enquanto alguns gostam da melodia, considerando-a edificante, outros consideram a letra "século 19 demais".

Nenhuma mulher

Foi esta falta de modernidade que incomodou a deputada socialista Margret Kiener Nellen, que apresentou em 2004 uma moção parlamentar para alterar a letra do hino, especialmente porque ele não inclui as mulheres.
 
A oposição foi grande e a deputada acabou retirando a proposta. Uma segunda tentativa em 2008, com um concurso para a escolha da letra, também foi rejeitada.
 
Kiener Nellen conta à swissinfo.ch que o atual clima político, mais voltado à direita, "não inspira grandes reformas".
 
Os democratas-cristãos, partido de raízes católicas como o hino, foram os principais a se oporem a qualquer mudança.

Deus, Alpes e a meteorologia

"É um salmo que louva a Deus e fala sobre os Alpes e as condições meteorológicas e, portanto, poderia se aplicar a qualquer um dos cinco países alpinos aqui do centro da Europa", considera Kiener Nellen.
 
"A única coisa suíça que faz com que o hino soe como Salmo Suíço é a palavra suíço.”
 
A deputada gostaria de ver um texto mostrando a diversidade geográfica e cultural do país, destacando-o como uma encruzilhada na Europa. Para ela, o hino também deveria ser mais curto, mais fácil de entender e menos religioso, fazendo apelo a todos.
 
O tema continua sendo assunto de debates no parlamento. Uma moção do SVP sugerindo que o hino fosse cantado no início de cada sessão parlamentar, como sinal de patriotismo, foi rejeitada em 2009.
 
Mas no ano passado foi decidido que a música do hino nacional deve abrir a temporada de quatro anos da legislatura, numa tentativa de sublinhar a importância cultural do Salmo Suíço. Dia 5 de dezembro marcará a primeira vez que o hino será entoado na casa. Mas os parlamentares poderão decidir se cantam ou não o hino junto com os outro.

Isobel Leybold-Johnson, swissinfo.ch
Adaptação: Fernando Hirschy

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo