Grupo é bem organizado e age por ideologia, diz ex-refém francês

Arquivado em:
Publicado Segunda, 24 de Janeiro de 2005 às 19:04, por: CdB
O grupo Saraya al-Mujahedin, que assumiu o seqüestro do engenheiro brasileiro João José Vasconcelos Júnior no Iraque, é bem organizado e tem motivações de ordem política, na avaliação do jornalista francês Alexandre Jordanov, da agência Capa Presse TV, que foi mantido em cativeiro pelo mesmo grupo durante quatro dias e meio em abril do ano passado.

- Eles têm uma ideologia. Para eles, uma empresa com atividades no Iraque trabalha também para os Estados Unidos, já que suas operações no país foram antes aprovadas pelo governo americano - disse Jordanov à BBC Brasil.

O Saraya (Brigadas) Al-Mujahedin é composto por pessoas com atividades e origens diversas, como ex-guardas de Saddam Hussein, sábios religiosos e fundamentalistas islâmicos, afirma Jordanov.

Segundo ele, o grupo tem membros de todas as idades.

- Um dos guardas que fazia a escolta onde fiquei preso tinha algo como 13 ou 14 anos - diz Jordanov.

Já os líderes religiosos são pessoas mais velhas, normalmente com mais de 60 anos.

- Trata-se de um grupo bem diversificado - afirma.

O jornalista diz ter sido capturado por ex-guardas de Saddam no dia seguinte a sua chegada ao Iraque. Durante quatro dias e meio, ele foi transferido para nove lugares distintos, sempre com os olhos vendados.

Falluja

- Às vezes, circulávamos de carro durante duas horas. Outras vezes o trajeto, era mais curto.

Em um dos locais, o jornalista teve a impressão de estar muito perto de Falluja, reduto rebelde sunita.

- Ouvimos bombardeios a noite toda. Naquela época, Falluja era atacada incessantemente pelas forças norte-americanas - diz ele, reproduzindo durante a convesa o som das bombas que caíam.

- Fui interrogado todos os dias - conta - Algumas vezes, os interrogatórios duravam uma hora. Outras, quatro horas.

Jordanov se recusou a falar em inglês com seus seqüestradores e pediu um interpréte em francês.

- Seria melhor que o brasileiro seqüestrado também evitasse falar em inglês com os seqüestradores - analisa o jornalista. Em algumas ocasiões ele foi interrogado por quatro pessoas. Em outras, havia até 20 pessoas presentes.

- Eles perguntam sobre tudo, quem você é, de onde veio, para quem trabalha, se sua empresa já trabalhou para Israel ou para os Estados Unidos, além de perguntas de ordem religiosa - afirma.

- Eles utilizam artimanhas nas questões. Fui indagado, por exemplo, se Jesus seria realmente o filho de Deus. Tinha tanto medo durante esses interrogatórios e queria que o nível de tensão fosse o mais baixo possível. Não queria que eles se irritassem - diz o jornalista.

- Prestavam muita atenção a tudo o que dizia durante os interrogatórios.

Jordanov afirma que às vezes os membros do grupo se irritavam.

- Eles brigam o tempo todo entre eles. Eles podem ser violentos, mas não necessariamente com os reféns, e sim entre eles.

O jornalista francês chegou a ser o pivô da briga entre dois grupos distintos que queriam montar a guarda do local onde ele estava detido. "Um deles disse que iria me matar, mas outros intervieram e eles resolveram o problema entre eles."

- Eles foram corretos de maneira geral. Eles me davam comida e às vezes os guardas me convidavam até para sentar com eles no chão para comer - afirma Jordanov.

- Nunca fiquei sozinho. Tinha sempre alguém fazendo escolta ao meu lado - diz o francês.

Jordanov diz que o cativeiro foi uma "experiência horrível" e que não gosta de falar sobre o assunto. "Co

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo