Grécia: começa o dito por não dito

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Publicado Domingo, 25 de Março de 2012 às 08:04, por: CdB

No momento em que o ministro das Finanças se candidata a primeiro ministro, multiplicam-se as opiniões contraditórias sobre a "solução grega", enquanto o chefe do governo em funções não fecha a porta a terceiro resgate.Artigo |25 Março, 2012 - 17:59Juncker disse que "insistimos sobretudo na questão do saneamento das finanças públicas sem dar uma solução alternativa”.

A política de austeridade imposta à Grécia pela troika começa a ser posta em causa pelos próprios criadores numa altura em que o país se prepara para eleições gerais antecipadas e os partidos responsáveis pelo governo registam enormes quedas de popularidade.

Os autores e executantes da estratégia de austeridade começam agora a afirmar que deveria ter havido mais cuidado com a componente do crescimento económico, uma vez que a atividade económica caiu 15% nos últimos anos.

"Acho que não colocámos suficientemente o acento sobre a dimensão do crescimento no problema geral grego", confessou o chefe do Eurogrupo, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, numa entrevista ao jornal grego Kathimerini. Acrescentou que "insistimos sobretudo na questão do saneamento das finanças públicas sem dar uma solução alternativa ou deixar a escolha à Grécia".

O novo chefe da delegação do FMI na Grécia depois da comissão de serviço de austeridade em Portugal, Paul Thomsen, considera que a questão grega poderia ter sido "gerida de outra maneira", mas exatamente no sentido contrário de Juncker. "Olhando para trás", disse Thomsen ao To Vima, considero "que algumas mudanças deveriam ter sido feitas de outra maneira" porque faltaram "reformas estruturais para acelerar o crescimento da economia e o emprego". Para a componente do FMI troika "o saneamento da economia baseou-se demasiado no aumento de impostos quando se deveria ter insistido mais na redução das despesas públicas".

Em Atenas, o ministro das Finanças Evangelos Venizelos foi escolhido como cabeça de lista dos socialistas do PASOK às próximas eleições gerais, pelo que abandonou o cargo no governo de Papademos. Segundo as suas primeiras declarações após a nomeação, promete tomar medidas para dinamizar o crescimento económico e criar emprego, apesar de o seu partido se ter comprometido assinando o recente pacto de austeridade para conseguir o segundo resgate.

Venizelos também reconhece agora que houve um fosso entre austeridade e crescimento agravado por uma envolvente externa mais negativa do que o esperado e ainda pela redução da confiança na economia.

O PASOK, que ganhou as anteriores eleições com Papandreu à cabeça, caiu para 11% nas sondagens mais recentes, atrás da direita da Nova Democracia – que entrou no governo há menos tempo – com 25 por cento. O panorama eleitoral grego está agora muito fragmentado.

O primeiro ministro em exercício, Lucas Papademos, não excluiu a possibilidade de a Grécia poder ter de recorrer a um terceiro resgate no caso de não conseguir ter acesso aos mercados até 2015. O chefe do governo minimizou os efeitos essa possibilidade alegando que no país existe "uma grande maioria silenciosa" favorável à austeridade como caminho para continuar a fazer parte da Zona Euro porque considera que será mais fácil relançar a economia dentro da moedaúnica do que fora.

Artigo publicado no site do Grupo Parlamentar Europeu do Bloco de Esquerda.

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