General responsabiliza ocidente pelo genocídio em Ruanda

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Publicado Terça, 06 de Abril de 2004 às 07:32, por: CdB

Algumas potências ocidentais são ''criminalmente responsáveis'' pelo genocídio de 1994 em Ruanda porque não fizeram o suficiente para impedi-lo, disse nesta terça-feira o comandante da força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no país africano à época.

``A comunidade internacional não deu a mínima para os ruandeses porque Ruanda é um país sem importância estratégica'', afirmou o general canadense Romeo Dallaire, em uma conferência realizada na capital Kigali para lembrar os dez anos dos massacres.

``Cabe a Ruanda não deixar que as outras pessoas esqueçam de que são criminalmente responsáveis pelo genocídio'', afirmou, nomeando a França, a Grã-Bretanha e os EUA.
``O genocídio foi algo brutal, criminoso e nojento. E prosseguiu durante cem dias sob os olhos da comunidade internacional.''

Dallaire, 57, volta pela primeira vez, desde 1994, ao pequeno país do centro da África para apresentar aos ruandeses sua versão para o violento episódio e fazer recomendações sobre as futuras missões de paz.O país realiza vários eventos para lembrar os dez anos do genocídio.

Quase isolado entre os representantes da comunidade internacional à época, Dallaire é hoje popular no país devastado porque trabalhou incansavelmente, mas em vão, para evitar os massacres.

O militar da reserva ficou profundamente traumatizado com o fracasso de sua missão, que não conseguiu impedir que cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados fossem assassinados por hutus extremistas. Muitas das vítimas morreram a golpes de facão e de tacos com pregos nas pontas.

O genocídio em Ruanda começou na noite de 6 de abril de 1994, depois que o avião no qual viajavam os presidentes de Ruanda e de Burundi foi derrubado.

Dallaire tentou convencer a ONU a aumentar sua missão de paz no país e a dar-lhe poder para impedir os massacres, mas os membros do Conselho de Segurança da organização votaram, ao invés disso, pela diminuição da força estacionada no país africano, que passou de 2.500 integrantes para 450.

Os ruandeses expressaram sua admiração por Dallaire, que ficou muito abalado com a experiência. O militar da reserva foi encontrado bêbado uma vez no banco de uma praça de Ottawa depois de ter tentado cometer suicídio.

Apesar de ser visto como um herói que tentou, repetidas vezes mas em vão, alertar o mundo sobre a matança em Ruanda, Dallaire não aceita que digam que ele teve um papel heróico na tragédia.

``Não há nenhum conforto em dizer que fiz o melhor que pude. Isso não vai apagar o sofrimento de um milhão de pessoas. Dizer isso seria um insulto'', afirmou Dallaire à revista semanal do New York Times.

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