Gaddafi alerta para escalada da guerra e Vaticano divulga mortos entre civis nos ataques da coalizão

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Publicado Quinta, 31 de Março de 2011 às 11:19, por: CdB
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O ditador líbio Muammar Gaddafi fez um alerta às potências ocidentais que estão lançando ataques aéreos sobre seu país que elas desencadearam uma guerra entre cristãos e muçulmanos que pode fugir do controle. Estados ocidentais intervieram na Líbia depois que a Organização das Nações Unidas (ONU) os autorizou a proteger civis que disseram estar sendo atacados por forças pró-Gaddafi, mas Trípoli afirma que a operação militar foi um ato de agressão injustificado. "Se continuarem, o mundo vai mergulhar em uma guerra de cruzada real. Eles iniciaram algo perigoso que não pode ser controlado e que fugirá ao controle deles", disse um texto de Gaddafi lido na televisão estatal. "Os líderes que decidiram lançar uma guerra de cruzada entre cristãos e muçulmanos de lados opostos do Mediterrâneo e que... mataram... números enormes de civis na Líbia enlouqueceram com o poder e querem impor a lei da força sobre a força da lei," dizia o texto. "Eles também destruíram os interesses compartilhados de seus povos e do povo líbio, solaparam a paz, exterminaram civis e querem nos fazer voltar para a Idade Média", acrescentou. Nos primeiros dias do conflito, Gaddafi fez vários discursos televisionados, mas ele não é visto em público há vários dias. Autoridades dizem que ele foi forçado a mudar sua rotina depois de um ataque aéreo atingir o complexo fortemente guardado em Trípoli onde ele tem sua residência principal. Até o fim Apesar dos constantes ataques ao regime, Gaddafi permanecerá no país "até o fim" para conduzi-lo à vitória contra seus inimigos, disse um porta-voz do governo nesta quinta-feira. Falando após a deserção do ex-ministro das Relações Exteriores da Líbia, Moussa Koussa, que voou para a Grã-Bretanha na quarta-feira, o porta-voz disse que os ataques aéreos ocidentais contra a Líbia só uniram a elite de sua liderança contra "um inimigo claro". – Se esta agressão fez algo, foi reunir as pessoas em torno do líder e da unidade da nação. Especialmente agora. Elas vêem um inimigo claro – declarou Mussa Ibrahim em Trípoli. Indagado se Gaddafi e seus filhos ainda estão no país, ele disse: – Tenha a certeza de que estamos todos aqui. Iremos ficar até o fim. Este é nosso país. Estamos fortes em todos os frontes. E acrescentou: – Não estamos nos apoiando em indivíduos para conduzir a luta. Esta é uma luta de toda a nação. Não depende de indivíduos ou autoridades. Ibrahim se recusou a comentar a deserção de Koussa, dizendo que haverá um pronunciamento formal do governo ainda na quinta-feira. – Temos milhões de pessoas conduzindo esta luta. Se alguém se sentir cansado, doente ou exausto, se quiserem tirar um descanso, acontece. Não estou confirmando nada – disse. Ibrahim desdenhou insinuações de que os ataques aéreos da coalizão fizeram a balança pender a favor das forças rebeldes que combatem as tropas de Gaddafi, ou encorajaram pessoas comuns a buscar mudanças após as quatro décadas de governo de Gaddafi. – Mesmo com o bombardeio aéreo de cada cidade líbia, você não vê pessoas saindo em massa para exibir qualquer mudança. Onde está a revolução popular? Onde estão as tribos saindo e dizendo ao seu líder: 'Saia do país'? É preciso ler os sinais – afirmou. Mortos entre civis Bispo apostólico da Igreja Católica na Líbia, Giovanni Innocenzo Martinelli afirmou, nesta quinta-feira, que ao menos 40 pessoas morreram nos bombardeios da coalizão internacional sobre Trípoli, capital do país africano. – Os chamados "bombardeios humanitários" causaram dezenas de vítimas entre civis em alguns bairros de Trípoli – disse Martinelli nesta manhã à agência de notícias vaticana Fides. Ele afirma que um dos ataques das forças internacionais, que têm como alvo oficial as Forças Aéreas do ditador Muammar Gaddafi, atingiram um edifício residencial. O bombardeio teria causado a morte de 40 pessoas, diz o bispo. O bispo afirmou ainda que vários hospitais de Trípoli foram atingidos por bombas, um deles no bairro de Misda, no sul da capital. O governo líbio acusa, desde o início da operação internacional, as forças da coalizão de matarem dezenas de civis em seus bombardeios. Funcionários do governo chegaram a levar repórteres internacionais para os locais atacados e para hospitais e necrotérios, mas a evidência de morte de civis é inconclusiva diante da censura imposta por Trípoli à imprensa e possível manipulação. Os países ocidentais dizem não ter evidência confirmada de morte de civis por seus ataques aéreos, aplicados sob resolução do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) para impor uma zona de restrição aérea no país e proteger os civis das forças de Gaddafi. – Embora se saiba que os bombardeios buscam atacar somente alvos militares, é certo também que quando eles atingem alvos militares que estão no meio de bairros civis, a população também é envolvida. Eu coletei relatos de várias testemunhas confiáveis – declarou o bispo Martinelli à Fides. Segundo ele, a situação em Trípoli torna-se cada dia mais difícil. – A escassez de combustível se agravou, como demonstram as filas intermináveis de carros nos postos de gasolina. No plano militar, parece que há um impasse, já que, aparentemente, os rebeldes não têm força suficiente para avançar – relata. Ele insistiu ainda em uma solução diplomática "para pôr fim ao derramamento de sangue entre os líbios", além de oferecer a Gaddafi "uma saída digna" do poder. Sem armas Embora os EUA tenham mobilizado agentes da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) para municiar os rebeldes sírias com armamentos mais pesados, para enfrentar as forças leais ao regime líbio, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) assumiu nesta quinta-feira o comando das operações internacionais na Líbia e rejeitou publicamente a ideia de armar rebeldes. A aliança assume o posto que foi dos Estados Unidos e lidera agora as forças na operação Protetor Unificado. a ideia é manter a zona de restrição aérea imposta na operação Aurora da Odisseia, além de manter os ataques às forças do ditador líbio, Muammar Gaddafi, e proteger os civis líbios. A operação começou oficialmente às 3h de Brasília, segundo a agência de notícias France Presse, que cita uma fonte diplomática. Sob a autoridade do grande quartel-general da Aliança na Europa, em Mons (sul da Bélgica), a operação será dirigida a partir do centro regional de comando de Nápoles (sul da Itália) pelo general canadense Charles Bouchard. A Otan assumiu o controle parcial das operações na quarta-feira, mas a transferência demorou em consequência da grande complexidade da operação. O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, reiterou a jornalistas nesta quinta-feira que é contra a ideia de fornecer armas aos rebeldes líbios e lembrou que a aliança está no país para proteger, não armar, os líbios. – Nós estamos lá para proteger o povo líbio, não para armar o povo. Até onde a Otan está sabe, e eu falo em nome da Otan, vamos nos concentrar no controle do embargo de armas e o objetivo claro de um embargo de armas é interromper o fluxo de armas no país – declarou Rasmussen.
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