FST: Sustentabilidade urbana, grade desafio para o Rio+20

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Publicado Sexta, 27 de Janeiro de 2012 às 09:50, por: CdB

Um dos temas de maior importância na Rio+20 em junho, no Rio de Janeiro, a sustentabilidade urbana foi amplamente debatida nesta quinta-feira (26) do Fórum Social Temático (FST), que segue até o próximo domingo, 29. Um dos objetivos do evento que ocorre em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo é justamente debater propostas para serem levadas à conferência da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em Novo Hamburgo um seminário durante a manhã – aprofundado através de oficinas práticas no período da tarde – se debruçou exclusivamente sobre o assunto, detalhando desde opções de materiais para a construção civil que otimizam o aproveitamento de recursos naturais até dicas simples para minimizar a impermeabilização do solo.

Já em Porto Alegre uma reunião com presença de grande público propôs uma reflexão crítica sobre pontos específicos que constam no rascunho do documento que deverá ser assinado pelos chefes de Estado presentes na Rio+20, e que vem sendo considerado protocolar e pouco profundo.

Em ambos os casos, a conclusão é que a organização urbana atual não fornece qualidade de vida aos seus habitantes, é excludente, e gasta demasiados recursos naturais para se manter.

“As cidades consomem 60% da energia gerada no planeta e emitem o equivalente a 70% da poluição global. Entre 1993 e 2002 aumentou em 50 milhões o número de pessoas carentes vivendo em zonas urbanas”, observa a arquiteta e urbanista Daniele Tubino Pante de Souza.

Entretanto, diversos conferencistas reiteraram em ambos os eventos que apenas com ampla mobilização popular será possível mudar esse cenário dentro do prazo necessário para reverter o processo de colapso dos recursos naturais.

“A sociedade civil tem um papel fundamental na condução do momento político e econômico atual. O dirigente político tem que estar pressionado para promover mudanças e, mesmo quando os governos são de esquerda, não podemos relaxar”, provoca o ambientalista e líder do Movimento Roessler, Arno Kayser.

Cidades já concentram 85% da população brasileira

O território de zonas urbanas corresponde a 2% das áreas ocupadas pela humanidade no planeta Terra e entretanto, já concentram 50% da população mundial – a previsão é que em 2050 esse percentual se eleve para 70%. “No Brasil, esse número já é de 85% vivendo nas cidades”, lembra um dos idealizadores do Fórum Social Mundial Oded Grajew.

Esse mínimo território, é portanto, o grande responsável pelo consumo dos recursos naturais. A construção civil é a grande vilã neste caso, sendo responsável pela utilização de 12% da água limpa da Terra e por 1/3 de tudo o que se extrai do planeta. Mais: é o setor que mais emite resíduos no mundo, 40% do total que se descarta vem das empresas que erguem edifícios e casas.

Há um cálculo, que está sendo chamado de “Pegada Ecológica” que avalia quanto cada cidade consome de recursos naturais por habitante. “Para manter o padrão de vida atual estamos gastando o equivalente a um planeta e meio. Em 2050, se não modificarmos nosso comportamento, serão necessário entre 2,5 e 5 planetas”, alerta o engenheiro civil colombiano Santiago Muñoz Navarrete.

Um dos grandes problemas em discussão na atualidade, o aquecimento global, só pode ser controlado se as cidades reduzirem seu nível de consumo.

Ocorre que 60% das emissões de gás carbônico na atmosfera são provenientes do uso de energia, concentrado nas cidades. A se manter o comportamento atual da população, a expectativa é que até 2025 essa demanda duplique – isso sem contar que há 1 milhão de pessoas em todo o planeta que não possuem luz elétrica em suas casas.

Pois bem, estudos mostram que para controlar a temperatura média da Terra de forma que ela não suba mais de 2°C nos próximos anos, será preciso reduzir pela metade o consumo de energia atual.

O cálculo a ser feito neste caso é pouco alentador. Será preciso incluir esse 1 milhão de pessoas que está desligado da rede elétrica, não multiplicar por dois o consumo nos próximos treze anos e ainda cortar a metade da atual capacidade instalada.

“Ou seja, se algum empreendimento se orgulhar de ter conseguido uma tecnologia que reduz em 30% as emissões, é absolutamente insuficiente, não resolve”, observa o presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão.

Fonte: Carta Maior

 

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