FMI diz que Argentina caminha para isolamento financeiro

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Publicado Segunda, 16 de Dezembro de 2002 às 22:11, por: CdB

No momento em que a Argentina concretiza a moratória ao Banco Mundial e deixa claro que também não pagará ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o Fundo avisa: enquanto não houver apoio político ao governo e enquanto o país não encontrar o caminho do crescimento não haverá acordo. E, consequentemente, não haverá perdão às dívidas que o país deve honrar com estes organismos. "A Argentina está repetindo a atitude do governo peruano de Alan García, nos anos 80, e caminhando para fazer parte de um clube que inclui o Congo, o Zaire e outros tantos países isolados do mundo", disse à BBC Brasil, nesta segunda-feira, uma alta fonte do Fundo. "Essa atitude de não pagar vai gerar a fuga dos investimentos e, conseqüentemente, maior desemprego e desigualdade social", analisou. Entre as consequências do não pagamento da dívida de US$ 1 bilhão que vence em janeiro com o FMI está o fato de a Argentina perder o direito a voto, numa cadeira rotativa, no Fundo. "Bônus samurai" Nesta segunda-feira, com uma nova missão do Fundo no país e quando o governo acumulou uma dívida não paga de cerca de US$ 900 milhões com o Banco Mundial, o Banco Tokyo-Mitsubishi anunciou que a Argentina também não pagou o que devia à instituição. São US$ 498 milhões de juros da dívida de um título do governo, chamado de "bônus samuraí", emitido entre pequenos e médios investidores japoneses. A Argentina tem até o dia 14 de janeiro para quitar esta dívida ou também entrará em moratória com os compradores de seus papéis no Japão. Atualmente, o país já enfrenta uma série de processos nos tribunais de Justiça da Europa e dos Estados Unidos por ter suspendido, em dezembro passado, o pagamento aos investidores privados, compradores de títulos argentinos. Sob pressão "A situação da Argentina está cada vez mais complicada", disse Isak Cohen, ex-integrante da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). "Não pagar ao Banco Mundial, ao BID e ao FMI significa fechar as portas para o crédito". Hoje, os governos dos países do G-7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo) estão sendo pressionados pelas empresas que têm investimentos na Argentina, na área de serviços básicos, para não aprovar um acordo com o país enquanto não sair o aumento das tarifas. O ministro da Economia, Roberto Lavagna, chegou a anunciar o ajuste das tarifas, deixando isentos 42% dos consumidores de baixa renda. Mas uma decisão da Justiça, adotada na semana passada, acabou congelando o ajuste e complicando ainda mais a relação entre o Fundo e a Argentina. Os sete países mais ricos do mundo, entre eles, Alemanha e França, além dos Estados Unidos, são os donos dos votos decisivos na cúpula do Fundo Monetário Internacional. A decisão de Lavagna de não pagar ao Banco Mundial - US$ 900 milhões - e sinalizar que fará o mesmo com o BID e o FMI, em janeiro - num total de quase US$ 2 bilhões - está gerando polêmica até na Argentina. "Ou Lavagna é um irresponsável total ou ele é um gênio", disse Chiche Gelblung, da rádio Diez. "Ele sentou em cima das reservas do Banco Central. Não está gastando o dinheiro com nada, mas também não paga aos organismos de crédito enquanto não assina acordo com o FMI. Quem sabe não dá certo?".

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