Publicado Sexta, 19 de Fevereiro de 2016 às 10:25, por: CdB
FHC me obrigou a dar uma entrevista pra Veja, dizendo que o pai do meu filho era um biólogo... Foi Fernando Henrique com Mário Sérgio Conti! Foi um acerto feito com o diretor da Veja
Por Altamiro Borges - de São Paulo
Se a mídia tupiniquim fosse minimamente séria, a entrevista de Mirian Dutra Schimidt, que trabalhou 35 anos na TV Globo e teve um caso extraconjugal com o ex-presidente FHC – que até resultou num filho questionável –, teria repercutido nos jornais, revistas, emissoras de rádio e tevê. Mas os barões da mídia agem como mafiosos – ou como amantes – e mantêm um rigoroso pacto de silêncio. Mesmo disputando fatias do mercado, eles se unem como aço para defender seus projetos políticos e de classe. Talvez por isto a jornalista tenha preferido dar a entrevista para a revista Brazil com Z, dedicada aos brasileiros que vivem na Europa. Por sua própria experiência, ela já sabia que suas revelações seriam abafadas ou simplesmente omitidas pela imprensa brasileira – como foi o próprio caso amoroso no passado.
Mario Sergio Conti, parceiro de FHC, foi editor de Veja e hoje apresenta um programa de entrevistas na Globonews
Na longa entrevista, ela relata pela primeira vez como foi o seu romance com o FHC, que durou seis anos, e traça um pouco do caráter do ex-presidente, que na época era casado com a antropóloga Ruth Cardoso. Entre outras coisas, Mirian Dutra afirma que o tucano era um homem ambicioso, “completamente manipulador”, que gostava de “fazer tudo sorrateiramente e posar de bom moço”. Ela o classifica como “parte da aristocracia paulistana”, um sujeito elitista e vaidoso. “Ele se achava o máximo". Ainda sobre a tumultuada relação, ela rejeita a tese de que o filho não seja de FHC, que encomendou um exame de DNA para negar a paternidade. “Eu tive uma relação de seis anos, fiquei grávida, decidi manter a gravidez, então é meu. Eu sou uma mulher, eu que decido isso! Se eles não querem, eles que se cuidem”. E ainda afirma que foi ameaçada pelo ex-presidente, que pretendia manter o “casamento de conveniência” e a amante. “Ele não deixava romper... ele me perseguia... quando eu ia sozinha nos lugares, ele ia atrás".
O mais importante da entrevista, porém, é quando Mirian Dutra descreve as relações carnais do “príncipe da privataria” com os barões da mídia nativa. Ela não esconde a sua magoa com a Rede Globo, que fez de tudo para proteger a imagem do neoliberal FHC e a descartou como bagaço. Definindo-se como a “ultima exilada”, ela descreve a abjeta manipulação: “Eles me colocaram abaixo de qualquer coisa. Em Portugal eu fiz muita coisa, trabalhei bastante os três primeiros anos, depois eles me congelaram”. A operação abafa teve um custo “muito pesado... Eu passei muita dificuldade, muita solidão, focada nos meus filhos, e tentando muito sempre trabalhar e pedindo pra Globo, pelo amor de Deus pra fazer alguma coisa, e eu era sempre cortada, sempre cortada".
Mirian Dutra explica que só decidiu falar sobre o assunto após deixar a TV Globo. E critica o ex-amante e a poderosa emissora da famiglia Marinho. “Meu trabalho sempre foi tão importante pra mim, isso me dói. Ter lutado tanto e de repente, por um homem completamente manipulador e por ter trabalhado em um grupo de comunicação tão... eu queria usar um verbo, mas não me permito usar esse verbo... eu fui prejudicada". Ela também denuncia a atitude da Veja e do jornalista Mário Sérgio Conde, que na época era editor da revista do esgoto e hoje apresenta um programa na GloboNews. “Quando eu estava grávida de sete meses do Tomas, a coisa estava para explodir. FHC me obrigou a dar uma entrevista pra Veja, dizendo que o pai do meu filho era um biólogo... Foi Fernando Henrique com Mário Sérgio Conti! Foi um acerto feito com o diretor da Veja”. A denúncia é gravíssima e até merecia a abertura de uma comissão de ética no Sindicato dos Jornalistas. Haja escrotidão!
Altamiro Borgesé jornalista, presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, militante do PCdoB, editor do Blog do Miro e autor do livro A ditadura da mídia.
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