Falsificadores sabem o que o mercado de arte procura, diz historiadora

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Publicado Segunda, 05 de Setembro de 2011 às 04:14, por: CdB

Deutsche Welle: Falsificar obras de arte é um negócio muito lucrativo, como mostra o mais recente caso em julgamento na cidade de Colônia. Quais são as causas para esse boom de falsificações, além do aspecto econômico?

Susanna Partsch: Creio que os falsificadores tentam sobretudo fazer dinheiro, mesmo dizendo o contrário. Um ótimo exemplo para isso é o caso do falsificador Han van Meegeren, conhecido pela falsificação dos quadros do holandês Vermeer nos anos 1930. Esses quadros foram recebidos com muito entusiasmo na Holanda, por serem considerados os primeiros quadros sacros de Vermeer.

Posteriormente, Han van Meegeren afirmou que logo no primeiro quadro ele queria ter revelado a verdade. Porém ele provavelmente nem poderia fazer isso, pois já havia investido muito dinheiro nesses quadros, para os quais utilizou por exemplo pedras preciosas como lápis-lazúli. Ele simplesmente precisava de dinheiro.

Como pode ser que mesmo especialistas se deixem enganar tão facilmente?

Isso se explica pelo fato de falsificadores de obras de arte saberem exatamente o que está sendo procurado no mercado. E quando algo muito procurado é encontrado, os interessados não dão atenção aos detalhes, como se isso não fosse mais importante.

Aconteceu exatamente o mesmo com os quadros sacros de Vermeer. Na coleção Jägers, atualmente em debate, se queria saber onde teriam estado os quadros da coleção Flechtheim.

Isso significa que eles observam o mercado, descobrem nichos e tentam entrar?

Sim, acredito nisso. O falsificador inglês Eric Hebborn escreveu um manual para falsificadores de obras de arte, onde ele descreve também como pensar como os especialistas, a fim de enganá-los.

Mas apesar disso sempre há falsificações que são descobertas. Quais as consequências para museus e leilões?

Na maioria das vezes, isso é uma grande catástrofe. Como no caso da galeria Lempertz, que enfrentou grandes problemas por causa dos supostos quadros da coleção Jägers que trouxe à tona. Nos museus, os quadros frequentemente somem nos depósitos ou não se fala mais a respeito.

Uma grande exceção se deu agora em Londres. No verão passado, a galeria nacional fez uma exposição, na qual documentou seus próprios erros. Obras compradas pela instituição, consideradas verdadeiros quadros renascentistas, e que posteriormente foram identificadas como falsificação. Na exposição foi mostrado também como a Galeria Nacional conseguiu identificar essas falsificações. Isso deixou claro que é sempre necessário um trabalho em conjunto entre restauradores, pesquisadores e historiadores da arte.

Pode-se dizer que alguns museus são coniventes quando obras de arte falsificadas são expostas? E que eles podem estar envolvidos no processo da falsificação?

Essa é naturalmente uma colocação delicada e difícil de comprovar. Porém, no passado, houve o exemplo de Wilhelm Bode, o conhecido diretor de museus em Berlim. Ele comprou um busto de cera considerado obra de Leonardo. E apesar de rapidamente terem surgido dúvidas a esse respeito, ele não hesitou quanto à autenticidade da obra.

Essa foi uma história que permaneceu nas manchetes dos jornais por longo tempo, e apesar disso Bode continuou em sua afirmação. Ademais, os quadros são naturalmente expostos com entusiasmo e, quando alguém duvida de sua autenticidade, essa questão não recebe atenção.

Quais artistas são mais frequentemente falsificados? Há também situações – talvez no trabalho do artista – que facilitem a falsificação?

Há os exemplos de Dali, que assinou telas em branco, o que naturalmente facilita muito a falsificação. Picasso foi e continua sendo muito falsificado porque ele pintou e desenhou inúmeras obras. Por isso se perdeu um pouco o controle.

Um exemplo contrário é Paul Klee, o qual descreveu minuciosamente cada um de seus quadros e desenhos num catálogo de trabalho. Uma pesquisa nesse catálogo é suficiente para se atestar uma falsificação.

Quem são esses falsificadores capazes de copiar artistas de renome, e cujo resultado é frequentemente muito difícil de diferenciar do original?

Na maioria dos casos, esse talento não é tão grande assim, pois apenas uma geração mais tarde as falsificações com frequência são descobertas. Só no momento em que surgem, as pessoas curiosamente se mostram cegas para esse fato.

Um ótimo exemplo foi um professor em Siena com o nome Umberto Giunti. Ele pintou uma madonna de Botticelli. O quadro foi então vendido à Inglaterra e se encontra até hoje no Instituto Courtauld, uma instituição científica renomada. Trinta anos depois, essa falsificação foi desvendada. Apenas não se sabia quem a havia falsificado.

Quando se observa hoje os originais de Botticelli, se vê que a madonna falsificada tem um olhar vazio, o que atesta a incapacidade desse falsificador em comparação a Botticelli. Mas as pessoas da época não reconheceram isso.

Autor: Gudrun Stegen (lkc)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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Edição digital

 

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