Ex-detento diz que americano torturava mais que Saddam

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Publicado Quarta, 12 de Janeiro de 2005 às 06:33, por: CdB

Ao depor nesta quarta-feira durante o julgamento de um soldado americano envolvido nas torturas na prisão de Abu Ghraib, um ex-detento iraquiano denuncviou que foi forçado por guardas dos Estados Unidos a se masturbar em público e a formar uma pirâmide humana junto com outros presos nus. Sewgundo ele, nem  nos tempos do ditador Saddam Hussein foi obrigado a fazer coisas parecidas. O ex-detento, identificado como Hussein Mutar, prestou depoimento no julgamento do soldado da reserva Charles Graner, acusado de liderar outros guardas que participaram dos abusos.

-No começo, eu não podia acreditar que isso poderia acontecer, mas eu desejei me matar porque não tinha ninguém lá para interromper aquilo - disse Mutar, que foi enviado para a prisão acusado de ser ladrão de carro. Seu testemunho foi gravado em vídeo.

- Eu fiquei extremamente impressionado porque (nem) Saddam fazia isso com a gente - acrescentou Mutar.

Em um depoimento anterior, Ameed Al Sheikh, um sírio que contou ter ido ao Iraque para enfrentar as forças de ocupação dos EUA, declarou que "Graner era o principal torturador (da prisão)".  Ele disse ter sido espancado pelo soldado americano quando se recuperava de um ferimento a bala e identificou o militar como o principal torturador do local.

Três soldados da unidade de Graner depuseram nesta segunda-feira sobre a função do militar nas sessões de tortura realizadas na área de maior segurança de Abu Ghraib, uma prisão localizada na periferia de Bagdá.

Al Sheikh, que ficou famoso na prisão por ter conseguido uma vez obter uma arma de um guarda iraquiano e ter trocado tiros com os soldados americanos, parecia desconfiado durante seu testemunho.

- Aquele cara, o Graner, é um homem que feriu seu país, feriu seu povo e, segundo me parece, ele receberá sua punição - afirmou. Segundo o sírio, o militar obrigou-o a comer carne de porco e a ingerir bebidas alcoólicas, práticas proibidas pelo islamismo.

Graner e a militar Lynndie England, que tem um filho dele e que também enfrenta uma corte marcial, transformaram-se nos rostos do escândalo de Abu Ghraib. Os dois aparecem sorrindo em imagens nas quais há prisioneiros nus sofrendo abusos.

Dois investigadores também prestaram depoimento nesta terça-feira afirmando ter identificado os prisioneiros que aparecem nas fotos como criminosos comuns, detidos por delitos como roubo, furto ou prostituição.

O advogado de Graner, Guy Wormack, argumenta que seu cliente estava apenas cumprindo as ordens de "amaciar" os prisioneiros antes que agentes dos serviços de inteligência das Forças Armadas os interrogassem. 

Desde o surgimento do escândalo, o governo dos EUA defende que a tortura foi obra de um pequeno grupo de soldados. Mas investigações realizadas a partir de então mostram que muitos prisioneiros no Iraque, no Afeganistão e na prisão americana da base militar de Guantánamo, em Cuba, também foram torturados.

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