Setores da esquerda francesa acusaram, nesta segunda-feira, o ministro do Interior do país, Nicolas Sarkozy, de tentar ganhar votos na disputa pela Presidência do país contribuindo para a prisão de um italiano radical condenado por assassinato nos anos 70.
Cesare Battisti, condenado por quatro assassinatos e vários roubos ocorridos quando ele era parte de um grupo de extrema esquerda ligado às Brigadas Vermelhas, da Itália, foi detido no Brasil com a ajuda da polícia francesa.
Battisti, 52, escapou da prisão em 1981 e passou vários anos morando na França sob a proteção do ex-presidente François Miterrand, que se recusava a extraditar radicais esquerdistas da Itália que tivessem renunciado à violência.
Segundo comentaristas de esquerda, Sarkozy, que lidera a corrida presidencial, ignorou a promessa feita por Miterrand a fim de reforçar sua imagem de “defensor da lei e da ordem.” O primeiro turno das eleições acontece em abril.
“Nicolas Sarkozy acaba de realizar uma deplorável manobra eleitoreira”, disse o jornal Libération, em um editorial no qual argumenta que a promessa de Miterrand não poderia ser rompida.
O ministro do Interior rebateu as críticas afirmando que a polícia francesa havia apenas atendido a um mandato de prisão internacional após o italiano ter desaparecido em 2004.
O caso reflete o fascínio alimentado pelos franceses em relação aos revolucionários de esquerda. Battisti contava com uma porção considerável de apoio entre intelectuais e escritores da França.
– Acho que a polícia tinha coisas mais importantes para fazer do que ficar perseguindo um homem acusado de crimes cometidos nos anos 70 – afirmou Gilles Perrault, escritor e membro de um grupo de apoio a Battisti.
O ex-ativista italiano confessou ter pertencido a um grupo militante, mas nega haver participado de qualquer ação violenta.
Os simpatizantes dele afirmam que Battisti não terá oportunidade de se defender na Itália porque foi condenado à revelia.
Embaraço
Mais contido, o conservador Le Figaro preferiu afirmar que “a notícia pode colocar Ségolène Royal e François Bayrou, os dois adversários mais perigosos (de Sarkozy nas eleições de abril), em uma situação de embaraço”. Em sua edição na Internet, o vespertino Le Monde disse que a prisão “supreendeu a todos os candidatos às eleições presidenciais, menos um: Nicolas Sarkozy”.
No domingo, Sarkozy – que é ministro do Interior e deve deixar o cargo até a próxima semana, de acordo com os jornais – confirmou que a captura de Battisti foi realizada com a ajuda de informações provenientes de Paris. Nos anos 80, o esquerdista fugiu da Itália e se refugiou na França, onde viveu em liberdade por conta da chamada “doutrina Mitterrand”, idéia do ex-presidente francês socialista de mesmo nome.
François Mitterrand havia prometido não extraditar refugiados políticos italianos que renunciassem à violência. Mas a “doutrina” foi abandonada em 2004, quando o atual presidente, Jacques Chirac, permitiu a prisão de Battisti, 52, que havia sido condenado à revelia na Itália. Ainda no Libé, consta a afirmação que Battisti foi preso, no Brasil, como parte de uma “campanha do Palácio do Eliseu”.