Esgotamento de vagas em cemitérios leva britânicos a buscar funerais alternativos

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Publicado Quarta, 31 de Agosto de 2011 às 06:03, por: CdB

Cemitérios britânicos estão ficando superlotados

Para muitos, a ideia de descansar eternamente, ao lado dos seus entes queridos, quando sua hora chegar, é confortante.

Na Grã-Bretanha, porém, a terra está cada vez mais cheia.

Seu eu quisesse ser enterrada perto dos meus parentes no cemitério Yardley, no sul de Birmingham, isso não seria possível. Lá, o espaço acabou em 1962.

Da mesma forma, eu teria dificuldade em encontrar um lugar perto de Halesowen, também na região de Birmingham, onde está enterrado um outro ramo da família.

Ali não há mais espaço no subsolo e um outro cemitério na área deve ficar lotado dentro de quatro anos.

E se eu seguisse para o sul? Morei na cidade costeira de Brighton durante um tempo e a ideia de ser enterrada perto do mar parece agradável.

No entanto, quatro dos sete cemitérios administrados pela prefeitura de Brighton and Hove já estão lotados e dos três restantes, um é exclusivamente para judeus ortodoxos.

Restam-me duas opções em potencial, mas como pretendo viver até os cem anos, ainda faltam 72 anos até que possa ocupar o meu lugar, o que diminui bastante as chances de que ainda existam espaços vagos até lá.

A escolha do local onde irei descansar por toda a eternidade perde sua conotação mórbida e mais parece um desafio logístico.

"A escolha do local onde irei descansar por toda a eternidade perde sua conotação mórbida e mais parece um desafio logístico"

Lucy Townsend

Eu poderia ser cremada, como acontece com a maioria dos britânicos, e ter minhas cinzas jogadas ao vento. Uma outra opção seria doar meu corpo para pesquisas científicas.

Uma nova alternativa, que chegou recentemente à Grã-Bretanha, é o método Promession.

Tido como uma solução ecológica para o problema, ele funciona da seguinte maneira: meu corpo seria congelado a -18ºC, depois submerso em nitrogênio líquido a -196ºC e chacoalhado até se despedaçar.

Quaisquer metais que eu trouxesse no meu corpo, como obturações dentárias ou uma prótese de quadril, seriam extraídos e reciclados, e meus restos orgânicos seriam jogados na terra, dando continuidade ao ciclo da vida.

Mas nem todos considerariam essas alternativas. Por motivos religiosos ou outros, um enterro convencional seria a única opção para 30% da população britânica..

Pragmatismo

Em algumas das cidades mais populosas do país, a situação está ficando séria.

"Francamente, não temos mais espaço", disse Barrie Hargrove, da prefeitura regional de Southwark, no sul de Londres. O cemitério local deve ficar lotado em três meses.

Parlamentar ligado ao Ministério do Meio Ambiente, Hargrove vem procurando soluções para o problema.

Como Outros Países Enterram seus MortosEm Veneza, existe uma 'ilha cemitério', onde restos mortais são enterrados em tombas sobrepostas, como gaveteiros. Seguidores da religião Zoroastrismo colocam os corpos de seus entes queridos no topo de torres e os deixam ali para ser comidos por urubus. No sul da China, integrantes da etnia Bo têm como tradição pendurar seus caixões no topo de penhascos e montanhas. Em alguns casos, os caixões são pendurados a altitudes de até 130 m.

Entre as soluções mais criativas disponíveis está o método conhecido em inglês como "dig and deepen" (cavar e aprofundar, em tradução literal), em que os restos mortais são retirados do local e enterrados em pontos cada vez mais profundos, criando espaços para a inserção de novos caixões.

Hargrove disse que a ideia deixa muita gente horrorizada, mas segundo o parlamentar, ela vem sendo praticada pela Igreja Anglicana há anos.

"Não é algo que sobre o que as pessoas querem discutir ou pensar", disse.

As soluções encontradas por outros países para a questão do que fazer com os mortos variam. Algumas sociedades são mais pragmáticas, o que ajuda a evitar o problema da superpopulação dos cemitérios.

Na Alemanha, covas são reutilizadas após 30 anos. Restos mortais são normalmente exumados e cremados. Na Austrália e Nova Zelândia, "cavar e aprofundar" é prática de rotina em regiões urbanas.

O diretor da entidade britânica que administra cemitérios e crematórios, Tim Morris, disse que a solução para o problema britânico é simples.

"A reutilização é comum em vários outros países e foi prática comum na Grã-Bretanha até 1850".

No entanto, em 1856, a lei foi mudada. Perturbar cadáveres tornou-se ilegal. Uma das intenções da lei era evitar roubos e desacelerar a rotatividade - os cemitérios das igrejas estavam tão lotados que os corpos eram desenterrados após poucos meses para abrir espaço.

Morris vem fazendo lobby para convencer governos sucessivos a mudar a lei, mas sem resultados.

"A morte não ganha votos", disse. "Existe sempre alguma crise mais importante a ser resolvida".

Com sorte, ainda tenho bastante tempo para fazer minha escolha, mas a Grã-Bretanha precisa encontrar logo uma solução para esse problema.

Porque se por um lado a morte é inevitável, por outro, não há como evitar uma outra verdade: o espaço está acabando.

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