Entrevista ao general Santos Cruz: 'Quando se enfrenta a violência, tem que ter equilíbrio'

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Publicado Terça, 16 de Janeiro de 2007 às 11:55, por: CdB

O general-de-brigada Carlos Alberto dos Santos Cruz, quarto brasileiro a assumir o comando de uma missão de paz das Nações Unidas, terá na condição de comandante da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), por até doze meses, a responsabilidade de chefiar 7,5 mil homens de quase 20 nacionalidades, encarregados de uma missão sem precedentes: levar estabilidade social e política ao país mais pobre das Américas.

Ao longo dos últimos anos, as dificuldades econômicas geraram violência e problemas para os governos democraticamente eleitos desde o início dos anos 90 - nas décadas anteriores, o país foi governado pela sanguinária ditadura dos Duvalier. Em 2004, com a deposição de Jean-Bertrand Aristide, foi criada a Minustah. A eleição, no ano passado, de René Preval para presidente do país, foi considerada passo importante no processo de normalização democrática. Apesar dos protestos de parcelas da sociedade civil haitiana e internacional, pedindo a retirada das tropas, o novo presidente tem declarado que o apoio das forças ainda se faz necessário.

Santos Cruz substitui no comando da Minustah o general José Elito Carvalho Siqueira, também brasileiro. Na entrevista a seguir, o novo comandante lembra que o avanço proporcionado para a democracia haitiana pela realização recente de eleições dá mais espaço para que a Minustah se concentre em outras tarefas previstas em seu mandato, como a reforma da polícia e do Judiciário haitianos.

Ele também responde às acusações de ativistas de direitos humanos haitianos de que a Minustah estaria agindo violentamente em bairros da capital do país, Porto Príncipe. Além disso, defende as tropas das acusações de abusos, recentemente destacadas pela imprensa mundial. E, por fim, destaca o desempenho das forças de paz em ações de cunho social, como a recuperação de estradas no país..

- Nesse momento, após a realização de três eleições em 2006 no Haiti, pode-se dizer que há um quadro político minimamente estabilizado. Quais as prioridades no trabalho da Minustah daqui para a frente?

- O mandato da Minustah tem vários pontos muito importantes. Um deles é a criação de um ambiente de estabilidade. Esse ambiente de estabilidade, como você disse, está sendo obtido através da regularização do processo eleitoral. No ano passado houve três eleições, em todos os níveis, e realmente há um indicativo de normalização, do ponto de vista político. Existem mais dois grandes objetivos que são o de implementar os direitos humanos e o de impedir a violência, que é o grande problema existente. Então, em termos de estabilização política, se tem um bom histórico do ano passado, e se tem uma perspectiva até boa pela frente. Já na parte de respeito aos direitos humanos, isso aí passa por uma reforma em diversos setores. Está havendo um grande trabalho de reforma judiciária, incluindo também um treinamento e uma reforma completa no sistema policial, para que se tenha gente formada dentro dos princípios de respeito aos direitos humanos. Quanto à questão de impedir a disseminação da violência, que é onde entram as tropas militares e a força policial das Nações Unidas: nós temos, na Minustah, cerca de sete mil militares e dois mil policiais (ligados à ONU), que estão operando juntos exatamente para combater a violência, que é um aspecto que acaba influindo em todos os outros setores da vida do país.

- Essa questão da reforma da polícia, da necessidade de conter a violência, inclusive por meio do desarmamento, foi apontada no último relatório do secretário-geral da ONU como a principal "frustração", digamos, até agora, porque ainda se está em estágio muito inicial dos trabalhos. Entidades que lutam pelos direitos humanos no Haiti chegam a alegar que a Minustah, nesses dois anos e meio, praticamente deu "guarida" e serviu de apoio para as ações violentas dos policias haitianos. Como o senhor vê esse quadro e qual a atuação da Minustah em relação a essa

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