Dor e resiliência

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Publicado Segunda, 26 de Março de 2012 às 08:47, por: CdB

A dor é universal. Todo mundo sabe o que é dor e já sofreuou sofre hoje alguma experiência de dor, física, psicológica, moral, familiar esocial. A resiliência é um conceito tirado da física. Quando alguns metaissofrem pressão e impacto, endurecem e ficam mais fortes. Não só resistem aochoque, mas saem fortalecidos. Essa descoberta ajudou psicólogos/as a compreenderemporque certas tragédias e perdas que, muitas vezes, fazem as pessoas perderem avontade de viver, podem também, em outras ocasiões, torná-las mais resistentese até mais fortes do que antes. A ciência ainda procura quais os fatores quepropiciam as condições para homens e mulheres enfrentarem e superarem problemasque, em outros casos, os teriam feito sucumbir. Muitos concordam em citar a fée a esperança como fatores que ajudam a resistência e mesmo a resiliência.Quando a fé e a esperança são assumidas não apenas como costume social ouconvenção cultural, mas como atitude vital podem ser instrumentos de força e derenovação interior, mesmo no meio das mais duras aflições. A maioria dastradições espirituais tem em sua base a confiança de se saber amado/a. Esta convicçãoabre a pessoa crente a uma esperança maior que dá sentido à luta do dia a dia epropicia força interior para enfrentar as situações mais adversas.

Há anos e anos, as comunidades cristãs que vivem nosterritórios palestinos, ocupados pelo Estado de Israel, se sentem entre doisfogos cruzados. São solidárias dos palestinos oprimidos em sua própria terra,mas convivem e colaboram com organizações judaicas que buscam a paz e ajustiça. Em um recente documento intitulado Kairós,esses cristãos palestinos afirmam: "Apesar de que, na realidade política donosso país, não vemos um único sinal positivo, a nossa esperança permaneceforte. A situação atual não promete nenhuma rápida solução e não vemos quandoserá o fim da ocupação imposta sobre nós. Apesar disso, temos esperança, porqueela vem de Deus e ele nos dá forças para resistir ao mal”. É essa resistênciaao mal que fez Jesus enfrentar pacífica, mas decididamente os seus adversáriosaté o ponto de doar sua vida pela causa do projeto divino no mundo.

Algumas Igrejas cristãs guardam o costume deanualmente celebrar a memória do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus.Esse memorial do que aconteceu com Jesus, revivido ritualmente em cada SemanaSanta, não pensa que o sofrimento é bom e nem o justifica. Muito menos acreditaque a morte de Jesus foi decisão ou vontade de Deus. Se fosse, este seria umapessoa má. Jesus foi condenado e assassinado pelo império romano com aparticipação e o conluio de autoridades judaicas da época. A cada ano, ascomunidades católicas, ortodoxas, anglicanas e de várias outras Igrejas celebrama Páscoa para proclamar que Deus libertou Jesus da morte. Ao ter assumido o seusofrimento por amor e ter dado a vida para que se realize no mundo o projetodivino de um mundo transformado, recebeu uma vida nova que partilha conosco.

Este modo de viver não nos vacina contra o mal nem nosprotege das dores e angústias da vida, mas nos dá a graça de viver cada dia deforma renovada e feliz, com uma força extraordinária para superar as dores etragédias da vida. No próprio fato de celebrar a Páscoa, as pessoas encontram motivoe oportunidade de resiliência. São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, noséculo IV, afirmava: "A ressurreição de Jesus faz de nossas vidas, mesmo nomeio da dor e das lutas, uma festa contínua”.

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