As pesquisas de opinião davam uma vantagem de 3 pontos percentuais a favor de Evo Morales contra o candidato de ultra-direita - do partido fundado por Hugo Banzer -, Jorge Quiroga. Computados até aqui 98,7% dos votos, os resultados oficiais são os seguintes:
Evo Morales - 53,89%
Jorge Quiroga - 28,56%
Isto é, uma diferença de mais de 25 pontos pró-Morales, oito vezes maior do que a apontada pelas pesquisas. A vantagem poderia ter sido maior se não tivesse ocorrido a absurda determinação da Comissão Nacional Eleitoral de excluir mais de um milhão de pessoas - a grande maior na zona rural - da lista de votantes, por não terem votado nas eleições municipais e não terem se reinscrito. Talvez a grande maioria deles votaria por Evo Morales, que poderia ter superado facilmente os 60% dos votos.
Se as pesquisas foram falsas, a grande mídia privada fez o seu papel de maior falseamento ainda da campanha. A Associação Latino-americana para a Comunicação Social (Comunican) fez uma pesquisa em 96 unidades da imprensa escrita e em 144 horas de transmissão de televisão e concluiu que houve uma brutal unilateralidade na cobertura da campanha eleitoral e uma visão claramente racista contra Evo Morales.
O resultado da pesquisa é eloqüente por si mesmo:
- matérias negativas para Evo Morales: 89%
- matérias neutras: 10%
- matérias favoráveis: 1% (sic)
- matérias favoráveis a Jorge Quiroga: 78%
- matérias negativas: 2% (sic)
- matérias neutras: 20%
- matérias favoráveis a Samuel Dório (empresário de direita, dono do Burguer King na Bolívia): 75%
- matérias negativas: 5%
- matérias neutras: 20%
Evo Morales derrotou o monopólio privado da mídia, as pesquisas e seus representantes políticos. A nova Bolívia venceu a velha.
Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de "A vingança da História".