Depressão: aumentam os riscos para a economia mundial

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Publicado Domingo, 26 de Agosto de 2001 às 11:20, por: CdB

O cenário econômico internacional passa por nova fase de elevação das incertezas com a divulgação de indicadores negativos na União Européia, em especial na França e na Alemanha, relativos a expectativas empresariais e a tendências de inflação. A região atravessa uma conjuntura especialmente delicada, pois depois da desvalorização do euro o Banco Central Europeu ficou em posição desconfortável para acompanhar os EUA promovendo reduções nas taxas de juros. Enquanto imperar o medo europeu da inflação (além da pretensão de promover uma valorização do euro), haverá dificuldades para retomar o crescimento econômico. No Japão os indicadores também continuam apontando para o aumento do desemprego e a estagnação dos investimentos. A grande plataforma reformista de Koizumi continua uma promessa. Nos EUA, as reduções de juros ainda não surtiram o efeito esperado e, na última reunião do Fed, já não houve consenso com relação à continuidade dessa política. Na Argentina, os problemas agora parecem sobretudo ter natureza política, dada a resistência das províncias ao ajuste fiscal. Em termos econômicos, no entanto, o fato é que o risco país voltou a subir nos papéis argentinos e a aura do ministro Cavallo vem sofrendo desgaste nos círculos financeiros internacionais. Em resumo, o cenário internacional, tanto o mais amplo quanto o argentino, de efeitos mais imediatos sobre a economia brasileira, tornou-se mais preocupante e sem perspectivas de melhora no curto prazo. Nesta semana espera-se nova redução nas taxas de juros nos EUA, em face dos sinais mais recentes de esfriamento da atividade econômica no segundo trimestre. Nesse contexto, o cenário de uma retomada no segundo semestre já está completamente descartado. De outro lado, há quem defenda uma interrupção no processo de redução dos juros nos EUA a partir de agora, como sinalização de confiança na perspectiva de uma retomada do crescimento ainda neste ano. Entre os mercados emergentes, pode-se considerar como relativamente bem sucedida a introdução do câmbio duplo na Argentina, contrariando a opinião predominante entre analistas nos primeiros dias após o anúncio das medidas de ajuste. De todo modo, assim como ocorre no cenário econômico brasileiro, há sucesso na contenção imediata da crise, mas sem que surjam indicadores convincentes de que o ajuste é sustentável no médio e longo prazos. Ou seja, serão necessárias medidas adicionais, na Argentina, sobretudo para assegurar que uma retomada do crescimento ofereça horizontes mais promissores de ajuste fiscal. Enquanto isso, a equipe ultraliberal de Bush parece optar pelo incêndio do circo antes de empenhar dinheiro dos contribuintes norte-americanos. De outro lado, aumentam as preocupações com o desempenho das economias asiáticas em face à desaceleração da economia norte-americana. Com exceção da China, todas as plataformas exportadoras sofrem com o desaquecimento global e com a recessão no mercado mundial de componentes eletrônicos. Se a desaceleração dos EUA continuar, alastrando-se por outros setores, o Sudeste Asiático enfrentará nova crise estrutural. O cenário internacional de desaquecimento econômico, demissões em massa em setores intensivos em alta tecnologia e a fragilização cada vez mais clara das economias exportadoras asiáticas eleva o risco global e dificulta o ajuste das economias fortemente endividadas em moeda estrangeira ou atreladas ao dólar, como é o caso do Brasil. Não é portanto casual que, mesmo depois do pacote com o FMI, os mercados cambiais continuem pressionados na economia brasileira. Como já afirmamos nesse espaço, do ponto de vista da racionalidade econômica e dos fundamentos dos mercados houve uma mudança estrutural, não apenas uma mudança de humor. Mudanças de humor são conjunturais, fazem os altos e baixos numa mesma fase do ciclo da economia. Mudanças estruturais implicam mudança na fase do ciclo ou mesmo alteração na sua trajetória e forma. Nas atuais circunstâncias, o ri

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