Em franca campanha pela defesa de seu mandato, o deputado José Dirceu (PT-SP) resolveu desafiar seu principal desafeto na política nacional. Ele disse que espera do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a oportunidade para voltar a enfrentá-lo, nas urnas, com Lula novamente candidato à Presidência do Brasil. FHC havia feito um desafio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convocando-o para concorrer às próximas eleições.
Dirceu disse que gostaria de ver o ex-presidente em campanha no ano que vem:
- Todos nós, do PT, gostaríamos que ele se apresentasse como candidato, mas parece que ele não quer - disse, em tom desafiador.
Para José Dirceu, Lula será candidato à reeleição e garantiu que estará na linha de frente da campanha, mas não como coordenador ou dirigente partidário.
- Eu quero que o presidente Lula seja candidato. Eu pretendo trabalhar na campanha, com certeza, mas dirigente partidário e coordenador de campanha são páginas viradas na minha vida - garantiu.
Quanto aos processos conta ele, na Câmara, Dirceu disse que espera justiça.
- Não estou indo à Justiça para ganhar tempo. Estou indo como todo brasileiro deveria ir para fazer valer seus direitos constitucionais - afirmou.
Ele voltou a repetir que não há acusação contra ele.
- Não tenho que pedir ao país perdão por nenhum ato ilícito ou de corrupção - disse.
Os advogados de defesa de Dirceu alegam que houve irregularidades, a começar pela negativa do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar ao pedido de retirada da representação contra o deputado, formulado pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Para a defesa, o conselho se sobrepôs indevidamente ao poder constitucionalmente outorgado aos partidos políticos, ferindo sua autonomia.
A defesa também contesta a prorrogação do prazo de tramitação do processo disciplinar, que extrapolou os 90 dias previstos no Regimento da Casa, sem a demonstração da necessidade de tal medida. Segundo os advogados, outra irregularidade é o fato de as testemunhas de defesa terem sido ouvidas antes das de acusação, impossibilitando a ampla defesa e o contraditório.
A defesa explica que várias informações bancárias sigilosas foram apresentadas, direta ou indiretamente, por integrantes do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar que também são membros da CPMI dos Correios o que teria influenciado na condução do depoimento de uma testemunha de acusação.
Empate técnico
Satisfeito com o empate de cinco a cinco votos obtido no Supremo Tribunal Federal (STF), Dirceu aguarda a volta do ministro Sepúlveda Pertence para conhecer o resultado da apelação quanto ao resultado do relatório na Comissão de Ética da Câmara, que propõe a cassação de seu mandato.
Cinco ministros do Supremo recusaram seu pedido. Mas outros cinco aceitaram, um deles de forma parcial. Dois ministros chegaram a mudar de voto. Gilmar Mendes, que havia votado favoravelmente a Dirceu, voltou atrás. Já Eros Grau, que havia negado a liminar, alterou seu parecer ao final do julgamento. Dirceu alega que o Conselho de Ética da Câmara alterou a ordem dos depoimentos em seu julgamento: ouviu primeiro as testemunhas de defesa e, depois, as de acusação.