Clima de tensão marca retomada de protestos do MST

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Publicado Quarta, 22 de Novembro de 2006 às 10:11, por: CdB

O ambiente é de tensão entre ruralistas e sem-terra no Rio Grande do Sul. Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desmontaram acampamento e querem retomar a marcha na BR-290, em direção a São Gabriel, enquanto ruralistas se posicionaram, na manhã desta terça-feira, em um posto de observação a cerca de 500 metros e prometem tentar impedir o avanço do grupo, já que há possibilidade de invasão de fazendas. A rodovia foi bloqueada no local.

Leia o artigo enviado, de São Gabriel, pelo frei Pilato Pereira:

MST em Rosário, rumo a São Gabriel

No dia 13 de novembro, cerca de 400 trabalhadores sem terra (jovens, mulheres, homens e crianças) saíram em marcha de Livramento - RS, tendo como destino a Fazenda Southal em São Gabriel - RS. O objetivo da marcha é pressionar o governo a desapropriar os 13 mil hectares de terra de Southal para fazer assentamento de reforma Agrária. O movimento também denuncia à sociedade que o proprietário da fazenda deve ao governo praticamente todo o valor das terras. Mas que, por ideologia contrária a Reforma Agrária, o latifundiário prefere vender a sua propriedade a uma multinacional que destinará a terra ao monocultivo de eucalipto para a industria de exportação de celulose. Por isso, a marcha também denuncia os impactos ambientais que ocorrerão, caso o projeto seja implantado. De acordo com algumas informações técnicas, até agora fornecidas, a monocultura do eucalipto provoca estiagens e destrói a biodiversidade do local plantado a de suas proximidades. Estudos também comprovam que a plantação de eucalipto em larga escala para a industria de celulose precisa de uma extensão de 185 hectares de terra para gerar apenas um emprego, enquanto que a reforma agrária pode gerar um emprego em cinco hectares de terra cultivados.

Após um dia de parada devido ao tempo chuvoso, a marcha seguiu no final do dia desta sexta feira, 17 de novembro, entrando na cidade de Rosário - RS, onde acampou no CTG Farroupilha. Como mostra o exemplo do CTG que cedeu espaço de acampamento, a sociedade vem demonstrando enorme receptividade aos sem terra que marcham para São Gabriel.  Se por um lado, existe a movimentação dos fazendeiros (desta vez mais tímida que na marcha de 2003) que fazem barreiras nas porteiras de fazendas e vigiam a marcha durante o dia e a noite, por outro lado, o movimento vem recebendo significativo apoio da sociedade. Ao longo da semana, dirigentes do MST foram recebidos por lideranças políticas e religiosas de São Gabriel e de Rosário. Diferentemente da marcha ocorrida em 2003, em que o prefeito de São Gabriel liderou um movimento contrário, desta vez o atual prefeito da cidade recebeu os líderes dos sem terra e prometeu colaborar com a chegada da marcha em sua cidade.

A marcha vai permaneceu na cidade de Rosário, com uma extensa agenda. Os trabalhadores sem terra que estão na marcha fizeram uma celebração ecumênica, celebrando os dez anos da escola itinerante do MST, no domingo. Também aconteceram panfletagens, caminhadas pelas ruas da cidade, divulgando os objetivos desta marcha e prestaram serviços voluntários à comunidade. No início desta semana a marcha segue seu curso com o projeto de nos próximos dias chegar em São Gabriel.

Frei Pilato Pereira é padre capuchinho e colaborador do Correio do Brasil

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