Chirac visita China em clara missão diplomática

Arquivado em:
Publicado Quarta, 25 de Outubro de 2006 às 10:52, por: CdB

Presidente da França, Jacques Chirac chefia uma delegação empresarial que desembarcou nesta quarta-feira na China, numa visita oficial ofuscada pela questão nuclear norte-coreana. Possivelmente, esta é a última viagem internacional importante do mandato de Chirac. Ele elogiou a maior presença chinesa no cenário internacional, especialmente na diplomacia com o Irã e a Coréia do Norte e no envio de forças de paz ao Líbano.

- Está claro que a China está cada vez mais engajada em lidar com os problemas internacionais - disse o presidente francês à emissora chinesa CCTV.

Chirac foi recebido no aeroporto de Pequim pelo chanceler Li Zhaoxing. Em quatro dias, visitará a cidade industrial de Wuhan, onde há grandes investimentos de empresas francesas, e o patrimônio imperial de Xian. Diplomatas franceses disseram que, na sua reunião de quinta-feira com o presidente Hu Jintao, Chirac vai salientar a importância da unidade internacional em torno das sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) à Coréia do Norte.

Pequim apoiou as sanções da ONU, mas não quer restringir o envio de combustível e ajuda à aliada Coréia do Norte, como pretendia Washington para pressionar o dirigente Kim Jong-il a voltar às negociações. A China teme que sanções excessivas provoquem um colapso econômico na já miserável Coréia do Norte, criando uma onda de refugiados. Durante as reuniões, Chirac deve mencionar a preocupação ocidental com a falta de liberdade de imprensa na China, enquanto os anfitriões devem se queixar do embargo de armas da União Européia ao país, imposto depois da repressão às manifestações pró-democracia da praça Tiananmen, em 1989.

Chirac tenta derrubar o embargo, sem sucesso até agora, e espera que as empresas francesas recebam polpudos contratos como recompensa, caso as restrições sejam abandonadas.

- Os chineses amam Chirac. É o único chefe de Estado ocidental que realmente fez uma aposta política e econômica na China - disse um diplomata francês antes da viagem.

A empresa francesa de engenharia Alstom já acertou um contrato de mais de 1 bilhão de euros para fornecer 500 das maiores locomotivas de frete já produzidas, segundo Patrice Kron, presidente-executivo da empresa. Chirac leva cerca de 30 diretores de bancos, empresas de energia e indústrias a Pequim, mas seus assessores minimizaram a possibilidade de grandes acordos comerciais, em meio à forte rivalidade com os EUA por contratos na China.

O presidente francês defenderá a candidatura da Areva para construir modernos reatores nucleares. A empresa trava uma disputa com a norte-americana Westinghouse pelas obras, que podem chegar a US$ 8 bilhões. Uma fonte disse que a China pode optar pela construção de uma usina, com transferência de tecnologia para mais três -- uma questão econômica delicada, que emperra as negociações há dois anos.

A visita de Chirac também é considerada uma última oportunidade de o banco francês Societé Generale tirar um contrato bancário de 3 bilhões de dólares do norte-americano Citigroup, cujo consórcio estaria à frente nas negociações para a compra do endividado Guangdong Bank. Outra empresa com sede na França, a Airbus, aguarda autorização para construir sua primeira fábrica no exterior, em Tianjin (leste da China), além de negociar a venda de mais aviões à China.

A Suez (setor energético) anunciou um acordo preliminar com a chinesa CNOOC, do setor de gás e petróleo, para o possível fornecimento de gás natural liquefeito à China. Chirac, 73, ainda não anunciou se disputará um terceiro mandato em 2007, mas sua visita à China é vista como um canto do cisne, destinado a reforçar sua imagem de estadista no exterior nesta reta final de governo.

Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo