Os presidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fazem na sexta-feira uma histórica reunião na Casa Branca para determinar se podem trabalhar juntos para resolver os problemas da América Latina.
A reunião deve durar quase três horas e incluirá vários ministros dos dois países. Ela servirá para demonstrar que as relações entre Brasil e Estados Unidos vão além das diferenças normalmente trazidas a público, como as disputas comerciais.
O encontro, organizado por iniciativa de Bush, pode servir para que as diferenças ideológicas entre ele e Lula sejam deixadas de lado, em nome de uma visão comum para as Américas.
– Talvez não sejam os sócios mais prováveis, mas acho que eles compartilham uma visão para os problemas sociais do nosso hemisfério – disse na quinta-feira a embaixadora norte-americana em Brasília, Donna Hrinak.
A agenda do encontro é aberta, mas um porta-voz da Casa Branca disse que “a promoção da liberdade na região e o comércio serão certamente grandes temas”. Entretanto, não deve ser discutida a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), um ambicioso projeto de mercado comum a respeito do qual Brasil e Estados Unidos têm profundas discordâncias.
– Não vamos discutir a Alca, o aço e o suco de laranja. Vamos olhar para o futuro, vamos discutir uma visão – disse o embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa, referindo-se a dois produtos que também provocam disputas comerciais.
Também na sexta-feira, Lula se reúne com diretores do FMI, do Banco Mundial e do Bird.
– Foram eles que pediram para ver o presidente, e o presidente se pôs de acordo – disse Barbosa, descrevendo essa reunião como uma “visita de cortesia”.
Em seguida, o ex-sindicalista Lula irá à sede da principal central sindical norte-americana, a AFL-CIO, para um encontro com seu presidente, John Sweeney.
Para Myles Frechette, presidente do Conselho das Américas, organização que promove o intercâmbio entre as Américas do Norte e do Sul, a visita de Lula tem a mesma importância da visita de Getúlio Vargas a Franklin Roosevelt na Casa Branca, quando o então presidente brasileiro anunciou o apoio aos Aliados na Segunda Guerra Mundial.
– O objetivo é que cada um se sinta confortável com o outro – disse Frechette. Na opinião dele, o que Bush quer é se certificar de que Lula é “um bom sujeito”, ma estratégia que ele já teria usado na sua aproximação com os presidentes do México, Vicente Fox, e da Rússia, Vladimir Putin.
De qualquer forma, as relações entre Bush e Fox esfriaram por causa da oposição mexicana à guerra no Iraque. Lula se manifestou de forma decidida contra esse conflito, iniciado pelos EUA.
Além disso, as diferenças comerciais ficaram ainda mais claras na quarta-feira, durante a cúpula do Mercosul em Assunção, quando Lula reiterou seu compromisso de fortalecer o bloco comercial, que reúne ainda Argentina, Paraguai e Uruguai.
– As diferenças teimosas deveriam ser resolvidas, mas nunca vão definir nossa relação – reagiu o secretário de Comércio dos EUA, Donald Evans.
Bush precisa do apoio de Lula para implementar sua agenda latino-americana, baseada na visão de um hemisfério plenamente democrático e unido pelo livre-comércio.
Nesse sentido, a decisão de Lula de combinar uma agenda social com cautela fiscal e econômica constitui para os EUA um valioso exemplo na América Latina, onde líderes como o venezuelano Hugo Chávez mantêm profundas diferenças com Washington.
– Estamos investindo muito nessa agenda de Lula, aqui nos Estados Unidos e em todo o hemisfério – disse Hrinak.
O secretário Evans afirmou que o Brasil pode “animar outros no hemisfério” a seguir adiante na luta contra a corrupção e contra a inflação.
– Devemos liderar com o Brasil – afirmou Evans.