Brasil põe em discussão papel de classificação de risco

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Publicado Terça, 14 de Janeiro de 2003 às 22:36, por: CdB

A discrepância entre as turbulências que atingiram a economia brasileira no fim de 2002 e a situação de calmaria observada justo quando se cumpriu o que os mercados mais temiam - a posse de um presidente do PT - levantou novas dúvidas sobre a capacidade dos mercados financeiros de prever o que vai acontecer no futuro. Entre os principais alvos das críticas estão as agências de classificação de risco - como a Moody's, a Standard and Poor's e a Fitch Ratings -, que foram acusadas de deixar temores políticos interferir no que deveriam ser análises frias dos fundamentos da economia do Brasil. Nesta terça-feira, o programa De Olho no Mundo, uma co-produção da BBC Brasil e da Rádio Eldorado de São Paulo, procurou discutir o papel dessas agências, cujas análises interferem fortemente no comportamento de investidores e são avidamente aguardadas pela mídia e pelo governo de países em desenvolvimento. Críticos dizem que elas não conseguem prever o risco de forma eficiente e muitas vezes agravam crises em países em desenvolvimento ao rebaixar suas notas e magnificar a reação negativa dos investidores. Mas as agências defendem o rigor de suas avaliações e afirmam que a qualidade das análises é atestada pela credibilidade que suas marcas detêm no mercado. Ativo "As agências de risco perderam muita credibilidade na crise asiática, por exemplo, pois realmente chegaram atrasadas", disse no programa o economista Paulo Vieira da Cunha, vice-presidente do banco de investimentos americano Lehman Brothers. "Hoje em dia há uma tensão sobre como elas podem conciliar o papel de ser mais objetivas, tendo uma visão de longo prazo, e a necessidade de não ficar atrás do mercado, que tenta jogar tudo no curto prazo". O diretor da Fitch Ratings em São Paulo, Rafael Guedes, ressaltou que, se as agências errassem tanto assim, perderiam credibilidade e conseqüentemente seu espaço no mercado. "Nós temos um ativo: a confiança das nossas notas, nas nossas opiniões", disse no programa o diretor-executivo da Fitch Ratings em São Paulo, Rafael Guedes. Política Mas, para Vieira da Cunha, é difícil negar que as agências tenham se influenciado pelo temor de uma vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2002. "Houve uma preocupação política, porque havia uma indefinição a respeito da política econômica futura", disse Vieira da Cunha no programa. "O mercado financeiro por sua essência antecipa o futuro, ele toma hoje decisões a respeito do que vai acontecer mais tarde". Guedes discorda dessa conclusão e afirma que a origem da turbulência da economa do Brasil, e do rebaixamento da nota do país no ano passado, pode ser encontrada nos fundamentos da economia brasileira. "De maneira nenhuma reagimos à possibilidade da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente". Deterioração "O que houve foi claramente uma deterioração na economia brasileira, na aversão ao risco dos investidores para o Brasil, tanto internos quanto externos", disse Guedes no programa. Mas ele admite que a avaliação da economias nacionais possui o que chama de "fatores qualitativos: como se desenvolve um país, como será a política econômica de uma nova equipe, como essa equipe será aceita pelo mercado". "O que acontece é que, em países menos desenvolvidos, o que não existe é a institucionalização da economia, dos agentes do governo", disse Guedes. "Com isso, a possibilidade de haver uma ruptura é muito grande, qualquer que seja o mercado".

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