Brasil está entre os países com maior índice de esterilização

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Publicado Segunda, 21 de Outubro de 2002 às 15:17, por: CdB

A Índia, o Brasil e a China lideram o ranking mundial de mulheres esterilizadas, segundo levantamento divulgado pela Divisão Populacional da ONU (Organização das Nações Unidas) na semana passada. Nesses países, um terço (33,3%) ou mais das mulheres casadas são laqueadas. Em todo o mundo, a ligação das trompas é o método contraceptivo usado por 20% do público feminino. A Índia é a líder absoluta no uso da laqueadura, adotada por 80% das mulheres casadas. O relatório da ONU não cita o percentual exato de mulheres brasileiras nessa situação. A última PNDS (Pesquisa Nacional de Demografia em Saúde), feita pelo Ministério da Saúde em 1996, mostra que 44% das mulheres brasileiras em união estável são laqueadas. Um quinto delas optou pelo método com menos de 25 anos, o que passou a ser proibido no país a partir de 1999. A situação é mais grave no Norte e no Nordeste, onde metade das mulheres em idade reprodutiva opta pela esterilização definitiva. Motivos Segundo Tânia Lago, coordenadora do Programa da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, há razões distintas para explicar a a alta incidência da laqueadura nesses países. Para ela, enquanto na Índia e na China há programas governamentais que incentivam e subsidiam a cirurgia, no Brasil a opção pode ser atribuída às dificuldades de acesso a outros métodos anticoncepcionais até a década de 80. Somente a partir de 1984 é que a pílula anticoncepcional começou a ser distribuída gratuitamente na rede pública de saúde. Hoje, além de receber anticoncepcionais orais e preservativos, os municípios acima de 50 mil habitantes têm direito a receber DIU (Dispositivo Intra-Uterino) e anticoncepcional hormonal injetável, segundo Lago. A coordenadora acredita que ainda vai demorar para a laqueadura deixar de ser o método contraceptivo mais utilizado no país. "É uma questão cultural. Muitas mulheres, por desconhecerem os outros métodos reversíveis, querem se livrar dos efeitos colaterais indesejáveis da pílula e da obrigação de tomá-la diariamente." Lago diz que, em Estados como o Rio Grande do Sul e São Paulo, vem ocorrendo uma diminuição das operações de laqueadura, embora não haja números atuais que demonstrem a tendência. Para o médico Luiz Eduardo Diniz, 51, coordenador do serviço de reprodução humana do Hospital Pérola Bygnton, é necessário que o governo se empenhe em orientar a população sobre os meios reversíveis de esterilização. Segundo Diniz, muitos casais arrependidos procuram serviços de reprodução assistida na tentativa de reverter a laqueadura ou a vasectomia. O estudo da ONU mostra que, embora a esterilização masculina (vasectomia) seja mais segura, mais rápida e mais barata, só é adotada por 4% dos casais. Apenas em poucos países, como a Nova Zelândia, o Reino Unido e a Holanda, há mais homens esterilizados do que mulheres. A Nova Zelândia é o país campeão em número de homens vasectomizados: um em cada cinco são esterilizados. Pesquisadores de Blangadesh, o oitavo país mais populoso do mundo, já procuram se inspirar na política de planejamento familiar da Nova Zelândia para difundir o mesmo método entre a população. No Brasil, o número de vasectomizados não chega a 10%. Planejamento Outro dado do estudo que impressiona: em um universo de 1 bilhão de casais, 350 milhões não têm acesso a serviços de planejamento familiar ou não se interessam em planejar suas famílias. No Brasil, a PNDS mostra que cerca de 50% das mulheres que foram mães entre 1990 e 1995 tiveram uma gravidez não planejada. Depois da laqueadura, o método contraceptivo mais popular entre as mulheres do mundo é o DIU (dispositivo intra-uterino), adotado por 15% delas, seguido da pílula, com 8%. Outros métodos, como injeções e tabelinhas, são os preferidos de 10% da população feminina. Nos EUA, menos de 1% das mulheres escolhe o DIU como forma de evitar a gravidez. É o país com o menor índice de adesão a essa forma de contracepção.

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