Bloco do Cortejo Afro desfila neste domingo no carnaval de Salvador

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Publicado Domingo, 06 de Fevereiro de 2005 às 14:06, por: CdB

A distribuição de 500 copos de munguzá - mingau feito de milho branco, vai marcar a estréia do bloco Cortejo Afro no circuito Barra-Ondina do Carnaval 2005 de Salvador. O desfile deve iniciar por volta das 21h.

A distribuição será feita para integrantes do Cortejo e para todos os foliões que estiverem ao longo da avenida quando o bloco passar. Palavra de origem bantu - uma das primeiras nações dos escravos africanos a chegar no Brasil, o munguzá é feito com milho branco que é uma das principais comidas oferecidas a Oxalá, considerado pai de todos os orixás no candomblé baiano.

Assim, o ato de distribuição não será somente um lanche para os integrantes do bloco e o povo da rua, como também um ritual para Oxalá e uma das simbologias mais importantes do Candomblé, que é a dádiva, a entrega, a alimentação aberta para todos, indiscriminadamente.
Comida e tradição

O tema escolhido pelo Cortejo Afro neste ano foi "Comida e Tradição" como uma homenagem à culinária afro-brasileira. Desenhos em branco sobre branco de quiabos, agdás, pratos de barro e panelas estão estampados nas vestimentas do bloco.

Na roupa estão inscritas receitas de personalidades famosas na Bahia, como a "Frigideira de Maturí" de Dona Cano, mãe dos cantores Caetano Veloso e Maria Bethânia, o "Efó" e o "Amalá de Iansã" de Dona Santinha, mãe-de-santo do Ilê Axé Oyá e mentora espiritual do Cortejo Afro, as "Bolas da Tia Gemma" do presidente do Projeto Axé, Cesare de La Rocca, o "Acarajé" da Dinha do Rio Vermelho e a "Moqueca mista de Peixe com Camarão" da famosa quituteira baiana Dadá, entre outras.

Com o tema, o Cortejo Afro faz uma homenagem também aos Orixás meninos, conhecidos como Ibêjes na língua yorubá, que são sincretizados com os santos católicos gêmeos Cosme e Damião e, por isso, na ala de dançarinos está com participantes gêmeos como forma de homenagear esses Orixás. Os integrantes da banda do trajam vestimentas estilizadas de mestres-cucas e na ala de frente do bloco senhoras da terceira idade usam chapéus que representam iguarias da culinária baiana, como o peixe frito, as moquecas de frutos-do-mar com azeite de dendê, os camarões e bolinhos.

De acordo com o artista plástico criador das vestimentas e também presidente do bloco, Alberto Pitta, o novo tema é mais um fortalecedor da identidade afro-descendente na cultura baiana.

- A comida é um dos aspectos determinantes da sobrevivência humana e como tal serve de momento de reflexão não só para as necessidades físicas como também das demais fomes de que sofrem o povo - alerta Pitta.

Para ele, o alimento é uma metáfora para o prazer e a estética próprias das apreciações e satisfações de desejos.

- No candomblé, por exemplo, o alimento passa pelo valor que se dá a ele e a forma como este é apresentado para as suas diversas funções sagradas - ressalta Pitta.
 
Internacionalmente conhecido 

O Cortejo Afro é um dos blocos mais queridos de renomados artistas brasileiros e estrangeiros, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Daniela Mercury, Seo Jorge, Arto Lindsay, Davi Moraes, Preta Gil, entre outros. Com sete anos de fundação, o Cortejo começou através de trabalho sócio-educativo empreendido em uma comunidade de candomblé, no bairro de Pirajá, às margens do Parque de São Bartolomeu, importante patrimônio histórico, étnico, cultural e ambiental da cidade do Salvador.

Os trabalhos sociais e educacionais no terreiro Ilê Axé Oyá da nação kêto liderado pela mãe-de-santo Dona Santinha, surgiu da necessidade de se resgatar valores da cultura e identidade negra baiana na comunidade de Pirajá. A banda acabou criando uma linguagem artística particular, incorporando novos elementos contemporâneos à tradicionais batidas do candomblé e do afoxé. No ano passado (2004) o Cortejo Afro ganhou espaços nos mais importantes meios de comunicação do mundo ao fazer parceria com o artista plástico

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Edição digital

 

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