BC surpreende e reduz Selic, mas Brasil ainda tem juros mais altos do mundo

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Publicado Quarta, 31 de Agosto de 2011 às 19:52, por: CdB

Medida surpreende analistas, que esperavam manutenção da taxa de juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou na noite desta quarta-feira uma redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), fixada em 12%. Primeiro corte de juros em 2011, a medida surpreendeu analistas, que esperavam a manutenção da taxa.

Apesar do corte, a decisão mantém a taxa de juros brasileira no topo do ranking mundial, bem à frente de Rússia, Egito (ambos com 8,25%), Índia (8%), China (6,56%) e Turquia (5,75%). Em economias desenvolvidas, como EUA, Japão e Grã Bretanha, a taxa está próxima de zero.

Em nota, o Copom justificou a baixa da Selic com uma reavaliação do cenário internacional, concluindo que ele agora "manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante".

Nesta semana, o Ministério da Fazenda afirmou que a economia do governo (superávit primário) prevista para 2011 passaria de R$ 81 bilhões para R$ 91 bilhões.

A medida, segundo o ministro Guido Mantega, visa aliviar pressões inflacionárias e garantir que o BC possa baixar a Selic nos próximos meses, permitindo que o crescimento econômico seja mantido apesar das turbulências globais.

Controle da inflação

Esta foi a primeira vez no ano em que o Copom reduziu a Selic. Desde janeiro, o banco aumentou a taxa cinco vezes.

A elevação dos juros é um dos principais instrumentos para o controle da inflação, mas tem efeitos colaterais. Quando eles sobem, bancos costumam aumentar suas taxas para empréstimos, o que desestimula investimentos produtivos.

Antes do anúncio do BC, o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, acreditava que havia margem para uma redução de 0,25 ponto percentual da Selic nesta reunião.

Segundo ele, a trajetória da inflação está relativamente controlada, o que não justificaria manter a taxa no nível anterior, de 12,5%.

Além disso, ele afirma que a produção industrial tem se desacelerado bastante e deve fechar o ano com crescimento de 2,5%, embora tenha crescido a taxas anualizadas de 6% ou 7% meses atrás.

"É importante iniciar processo de redução de juros sob pena de, num contexto de desaceleração da economia mundial, nós termos um esfriamento além da conta, por conta de juros excessivamente elevados", diz.

Já o economista da FGV-RJ André Braz, que apostava na manutenção da taxa de juros, o momento ainda não seria o ideal para reduzir a Selic. Para ele, não existem informações claras sobre como a crise internacional pode afetar a economia brasileira.

Além disso, segundo Braz, a crise não pode fazer com que o governo deixe de lado os indicadores econômicos internos e o objetivo de conter a inflação.

O economista não vê sinais de desaceleração nas taxas de criação de empregos, nem recuo na compra de bens duráveis, fatores que poderiam sinalizar um arrefecimento da economia doméstica e, por extensão, indicar a necessidade de baixar os juros.

Aumento do mínimo

Braz também rejeita a ideia (expressa por alguns analistas e associações industriais) de que, sem uma redução dos juros, o Brasil deverá sofrer uma queda acentuada nos níveis de crescimento.

Segundo ele, o aumento do salário mínimo no próximo ano (devendo chegar a quase R$ 620) garantirá fôlego extra para que as famílias continuem a consumir.

Ele defende, no entanto, que o governo insista na diversificação dos mecanismos de controle da inflação, com cortes de gastos e as medidas macroprudenciais, que visam restringir a concessão de crédito por meio de alterações na política tributária e na regulação dos bancos.

Antes da redução dos juros desta quarta-feira, o economista da consultoria LCA Homero Guizzo, que também apostava na manutenção da Selic, defendia que a taxa não fosse alterada até 2012, a menos que eventos extraordinários ocorressem no exterior, interrompendo o funcionamento dos mercados de crédito.

Guizzo avalia que, ainda que a economia brasileira dê sinais de desaceleração, o mercado de trabalho continua bastante aquecido, o que pressiona os preços de serviços, exigindo uma postura cautelosa do BC.

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