Autosuficiência não é o bastante

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Publicado Quinta, 20 de Abril de 2006 às 19:39, por: CdB

Uma vez obtida a auto-suficiência na produção de petróleo, a Petrobras precisa agora adotar como estratégia a ampliação do seu parque de refino, de modo a agregar valor e tornar lucrativa a necessidade de exportar o petróleo excedente, para tornar rentável os esforços de investimentos feitos na área de exploração e produção. A opinião é do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, que apóia e considera acertada, até mesmo "brilhante", a decisão da estatal brasileira de comprar parte da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

- Não concordo com os que criticam a decisão da Petrobras de exportar o excedente produzido. De que a empresa tem que estocar o produto. O Petróleo brasileiro é pesado, ácido. Por isto mesmo o país precisa importar óleo leve para fazer a mistura no processo do refino. Quanto ao futuro, há vários estudos que indicam que o petróleo será substituído não pelo seu esgotamento físico, mas sim por problemas de preço e competitividade quando comparadas a outras alternativas energéticas, inclusive menos poluentes - afirmou.

Como que a reforçar esta linha de pensamento, o diretor da EPE ressalta o fato de que não está nos planos da Petrobras transformar o Brasil em um país exportador.

- Não é realista você achar que o objetivo da auto-suficiência é o de tornar o Brasil um país exportador: isto é uma conseqüência dela. Sendo auto-suficiente é preciso conviver com o fato de que estaremos exportando um certo percentual da produção. Mas será a viabilidade econômica do poço que determinará o ritmo da produção e, conseqüentemente, do volume a ser exportado - explicou.

Em seu entendimento seria um mau negócio vender o excedente do petróleo bruto extraído no país em sua composição natural, em razão do baixo valor do produto no mercado internacional.

- É preciso refinar e agregar valor a este petróleo. A Petrobras deveria voltar esforços para a produção de gasolina especial e diesel de melhor qualidade voltados para o consumo norte-americano, onde a legislação ambiental é mais rigorosa neste aspecto. Caso contrário estaria fazendo um mau negócio - alertou.

Como executivo responsável por pensar a estratégia energética nacional, Maurício Tolmasquim também rebate os que criticam a decisão da Petrobras de exportar o excedente do petróleo produzido, pois o país ainda extrai, em sua maior parte, uma petróleo mais pesado, meio ácido, e que, por isto mesmo, é de difícil escoamento:

- A estratégia de atuação como uma empresa integrada de energia deve ser estendida também à área de refino. Isto, aliás, já está acontecendo com a aquisição da refinaria no Texas. É brilhante: você leva petróleo pesado do Brasil, de pouco valor agregado (adicionado), e refino petróleo de boa qualidade para colocar no mercado norte-americano. A PDVSA (a estatal venezuelana do petróleo) já adota esta estratégia: possui várias refinarias fora do país, inclusive nos Estados Unidos.

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