Anfitrião de Kyoto, Japão está longe de cumprir metas do acordo

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Publicado Segunda, 14 de Fevereiro de 2005 às 18:40, por: CdB

Para muitos, a palavra Kyoto remete à imagem de templos e tradições ancestrais.

Mais recentemente, a palavra ganhou fama internacional por estar associada ao tratado de mudança climática conhecido como Protocolo de Kyoto, que entra em vigor nesta quarta-feira.

Mas se os japoneses se orgulham pelo uso do nome de sua antiga capital, esse sentimento não fez com que o país-- que é a segunda maior economia do mundo-- tomasse a iniciativa de reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa, apontado como causador do aquecimento global.

Aqui, muitos acreditam que o fato de o país ter sediado o encontro de 1997 que levou à criação do tratado significa que Tóquio tem a grande missão de cumprir os marcos de emissões estabelecidos no pacto para nações desenvolvidas.

"Dado que o Protocolo de Kyoto é o único tratado internacional com um nome japonês, seria bom que o país o respeitasse", disse Keizo Fukushima, que trabalha com políticas de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente do Japão.

Inicialmente, Tóquio se comprometeu a reduzir em 6 por cento em relação aos níveis de 1990. Em vez disso, os níveis subiram 8 por cento desde então, afirma o Ministério.

No entanto, de acordo com um estudo sobre mudanças de climas da ONU, esses níveis subiram 12,1 por cento, diferença que segundo o governo japonês se dá por conta de diferentes formas de cálculos.

O Japão, porém, não é o maior vilão.

Muitos signatários do protocolo não cumpriram suas metas. A Espanha, por exemplo, aumentou suas emissões de gases de efeito estufa em 40 por cento em relação aos níveis de 1990.

Kyoto diz que as nações desenvolvidas são obrigadas a reduzir suas emissões em 5,2 por cento, em relação às marcas de 1990, durante a primeira fase do protocolo, um período de cinco anos que vai de 2008 a 2012.

Para o Japão, vários fatores estão por trás do aumento, incluindo pouca atenção dos consumidores e uma melhora da economia após anos de recessão. Uma guerra entre ambientalistas e o lobby das grandes empresas tampouco ajudou.

Líderes empresariais temem que dar uma ênfase muito grande na redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) poderia afetar a competitividade internacional, especialmente contra os Estados Unidos, que abandonaram Kyoto em 2001, e contra a China, que por ser um país em desenvolvimento não está obrigada a cortar as emissões neste momento.

"Comparado com as condições dos EUA, China e Europa, o compromisso do Japão de reduzir em 6 por cento é algo muito exagerado", Meguri Aoyama, economista chefe do escritório de meio ambiente da Fundação de Negócios do Japão (Keidanren), o maior lobby empresarial do país.

Em nenhum outro lugar há uma polêmica tão grande sobre a criação ou não de um imposto ambiental de o equivalente a 23 dólares por cada tonelada de carbono emitida a partir de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão.

Líderes empresariais fazem uma oposição feroz à idéia, lançada pelo Ministério do Meio Ambiente, mas que até agora não deu em nada. Para eles, a cobrança iria comprometer da economia e pesaria demais sobre a população, que já paga muitos impostos.

"Eles têm de parar de ter essa visão curta sobre o sistema de negócios que contribui para a elevação das emissões, algo que terá um impacto sobre a vida de todos eles", disse Masaaki Nakajima do Greenpeace do Japão.

Para as autoridades a questão é enfatizar na situação dos EUA e da China-- este último isento por enquanto do protocolo por ser um país em desenvolvimento, o que acarreta muitas críticas.

"Claro que há uma necessidade de o Japão debater suas políticas", disse Aoyama do Keidanren. "Mas se você olhar para a Terra como um todo, o impacto do Japão não é nada comparado com a China."

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