Nas ruas de Caracas, muitas pessoas dizem que os venezuelanos estão enfrentando um processo de divórcio coletivo sem direito a reconciliação.
Todos se separam e definem posições: são chavistas, ou pertencem à oposição.
Famílias, amigos, colegas de trabalho, estudantes e vizinhos deixaram de se falar porque se manifestaram por um ou outro lado.
É difícil encontrar alguém que se declare neutro diante da Venezuela atual: polarizada e atolada em um caos político e econômico.
Defesa apaixonada
Em geral, as defesas, tanto de uma parte, quanto de outra, são extremamente apaixonadas.
“Defendemos o governo da mudança. O único que defende a revolução e ouve os pobres e os trabalhadores”, diz o aposentado José Carlos Ponce.
A opinião da comerciante Izabel Cristina Gil é diferente: “Temos um louco governando a Venezuela. Ele quer transformar nosso país numa nova Cuba”.
Entre os oposicionistas, estão 18 partidos políticos, 32 rganizações não-governamentais, inúmeros sindicatos e federações de trabalhadores, como a Central de Trabalhores da Venezuela (CTV), e de empresários, como a Fedecámaras, e 312 militares, reunidos em torno da Coordenação Democrática.
Todos garantem que o único objetivo do grupo é tirar o presidente Hugo Chávez do poder.
Nesse sentido, a adesão massiva dos grupos privados de comunicação tem ajudado a oposição a ampliar sua base de apoio através de uma campanha raivosa publicada e transmitida diariamente nos jornais e redes de rádio e televisão do país.
Nesse grupo, segundo o cientista político Luis Vicente Leon, a base não está nos partidos políticos, que desapareceram e perderam força em 1998.
“Não há um líder que capitalize as frustrações da população. Algumas pessoas buscam um processo de modernização no país, outros não gostam de Chávez porque ele é populista, mas também há aqueles que preferem a saída do presidente porque ele não é suficientemente populista”, diz o analista.
Antichavismo
De acordo com Leon, o ponto que une essas pessoas, principalmente nos últimos meses, é o antichavismo, um sentimento radical anti-Chávez.
“Todos nós queremos que ele saia”, diz Julio Borges, coordenador do jovem partido Primeiro Justiça.
“Acreditamos que essa greve geral seja o terremoto final para que todas as instituições obriguem o presidente a renunciar”.
A mesma opinião tem o vice-almirante Hector Ramirez Perez, pertencente ao grupo de 14 militares que se declarou em desobediência contra Chávez em 22 de outubro e um dos acusados do golpe de 11 de abril de 2002.
De acordo com ele, o sentimento de oposição se fortaleceu a partir do momento em que Chávez começou a falar de revolução.
“Os democratas que o ajudaram a ganhar a Presidência acabaram se afastando dele”, assinala o militar dissidente. “Não queremos que ele instale um regime comunista aqui”.
Segundo o analista Luis Vicente Leon, há também outros interesses em jogo. Mas a maioria dos opositores acredita que possa ser prejudicada de alguma forma com a proximidade de Chávez com o modelo cubano.
Na realidade, a oposição só apareceu de forma organizada no final de 2001, quando foi realizada a primeira greve contra o governo Chávez, depois de ser aprovado um conjunto de 49 leis, que ficaram conhecidas como a base para uma revolução socialista.
Entre elas, estava a que dava ao governo a capacidade de determinar o uso e a desapropriação de terras.
Popularidade baixa
Como Chávez aparece nas pesquisas de opinião com apenas 25% de aprovação, a oposição está certa que detém os restantes 75%.
Nessa matemática, Chávez não conta mais com o apoio de todos os pobres do país, que representam 80% dos 25 milhões de habitantes.
Os chavistas não concordam. Para eles, a polarização que existe na Venezuela é entre os ricos, defendendo seus próprios interesses, e os pobres, que pela primeira vez na história venezuelana começaram a ser ouvidos.
A partir da adesão à greve geral que completa 39 dias nesta quinta-feir