Alencar quer decisão política para taxa de juros sem pirraça

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Publicado Segunda, 02 de Junho de 2003 às 15:55, por: CdB

O presidente em exercício, José Alencar (PL), foi mais enfático nesta segunda-feira ao defender a queda nas taxas de juros. Para ele, a decisão sobre a taxa deve ser política, já que as deliberações econômicas "têm dado errado". - Precisamos de uma decisão política, isso não é decisão para economista. Do ponto de vista de filosofia das taxas de juros, isso é decisão para ser tomada na esfera política, porque tecnicamente tem dado errado - disse o vice-presidente a jornalistas em seu gabinete no Palácio do Planalto. Bem-humorado, disse que "não vai mais pedir para os juros caírem porque, da última vez, disseram que os juros não caíram só porque fiquei falando. Foi de pirraça". "(Agora) vou dizer: aumentem os juros, aumentem os juros", acrescentou, rindo. Alencar voltou a defender que apenas com a queda nos juros o setor produtivo poderá crescer. Apesar das pressões do presidente em exercício e do empresariado, o Banco Central manteve a taxa básica de juros da economia em 26,5% ao ano na reunião de maio. - O presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) está consciente disso (da necessidade de redução dos juros), mas pode ter uma saída clássica, ortodoxa ou tentar algo diferente - afirmou Alencar, que está interinamente na Presidência porque Lula foi a eventos na Europa e retorna ainda nesta segunda-feira. As declarações de Alencar, que é empresário do setor têxtil, se chocam com um dos princípios básicos do Banco Central, que é a tomada de decisões técnicas, sem interferências políticas. Alencar afirmou ainda que o presidente Lula não pediu que ele amenizasse as críticas, como foi divulgado. Segundo Alencar, ele e Lula fazem "parte da mesma família" e "entre irmãos também existem críticas". MOTIVO EQUIVOCADO O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, têm defendido a manutenção das altas taxas de juros como forma de controlar a inflação. Mas, para Alencar, esta motivação é equivocada. "Essa inflação que está aí não é de demanda, é de custos. Os preços e tarifas administrativas são responsáveis por essa inflação". O presidente em exercício também não concorda com a explicação da equipe econômica de que, se os juros caíssem agora, poderiam voltar a subir em breve. "Não acredito nisso, porque vivemos num país rico, que pode produzir e crescer". Alencar não quis fazer críticas diretas ao BC. "Temos que aplaudir o que foi feito até agora pelo Ministério da Fazenda, mas há outra ameaça, a da recessão, da inflação". OPOSIÇÃO CRITICA POSTURA, MAS QUER QUEDA O senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, afirmou que Alencar, por ser empresário, está advogando em causa própria. - Ele está raciocinando como um industrial olhando para o próprio umbigo. A conversa dele é abilolada. Ele quer decisões políticas. Meu Deus do céu, as decisões não são políticas - disse Virgílio a jornalistas no Congresso. Mas o senador também defende a queda nos juros e chamou o BC de "frouxo" por não ter reduzido os juros para 25% ao ano no mês passado. Para ele, o BC não precisa manter os juros no atual patamar "só porque tem que mostrar que não irá ceder à pressão de ninguém. Pecar por falta de ousadia é pior". Já o senador José Agripino (RN), líder do PFL no Senado, acredita que Alencar é coerente porque repete o que disse na campanha eleitoral e acusou Lula de incoerência. "Lula vendeu uma coisa e faz outra", afirmou a jornalistas. Para Agripino, a decisão do BC é política, com embasamentos técnicos e "já há condições técnicas par baixar". O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), outro defensor da queda de juros, não quis comentar as declarações de Alencar.

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