O presidente em exercício, José Alencar (PL), foi mais enfático nesta segunda-feira ao defender a queda nas taxas de juros. Para ele, a decisão sobre a taxa deve ser política, já que as deliberações econômicas "têm dado errado". - Precisamos de uma decisão política, isso não é decisão para economista. Do ponto de vista de filosofia das taxas de juros, isso é decisão para ser tomada na esfera política, porque tecnicamente tem dado errado - disse o vice-presidente a jornalistas em seu gabinete no Palácio do Planalto. Bem-humorado, disse que "não vai mais pedir para os juros caírem porque, da última vez, disseram que os juros não caíram só porque fiquei falando. Foi de pirraça". "(Agora) vou dizer: aumentem os juros, aumentem os juros", acrescentou, rindo. Alencar voltou a defender que apenas com a queda nos juros o setor produtivo poderá crescer. Apesar das pressões do presidente em exercício e do empresariado, o Banco Central manteve a taxa básica de juros da economia em 26,5% ao ano na reunião de maio. - O presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) está consciente disso (da necessidade de redução dos juros), mas pode ter uma saída clássica, ortodoxa ou tentar algo diferente - afirmou Alencar, que está interinamente na Presidência porque Lula foi a eventos na Europa e retorna ainda nesta segunda-feira. As declarações de Alencar, que é empresário do setor têxtil, se chocam com um dos princípios básicos do Banco Central, que é a tomada de decisões técnicas, sem interferências políticas. Alencar afirmou ainda que o presidente Lula não pediu que ele amenizasse as críticas, como foi divulgado. Segundo Alencar, ele e Lula fazem "parte da mesma família" e "entre irmãos também existem críticas". MOTIVO EQUIVOCADO O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, têm defendido a manutenção das altas taxas de juros como forma de controlar a inflação. Mas, para Alencar, esta motivação é equivocada. "Essa inflação que está aí não é de demanda, é de custos. Os preços e tarifas administrativas são responsáveis por essa inflação". O presidente em exercício também não concorda com a explicação da equipe econômica de que, se os juros caíssem agora, poderiam voltar a subir em breve. "Não acredito nisso, porque vivemos num país rico, que pode produzir e crescer". Alencar não quis fazer críticas diretas ao BC. "Temos que aplaudir o que foi feito até agora pelo Ministério da Fazenda, mas há outra ameaça, a da recessão, da inflação". OPOSIÇÃO CRITICA POSTURA, MAS QUER QUEDA O senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, afirmou que Alencar, por ser empresário, está advogando em causa própria. - Ele está raciocinando como um industrial olhando para o próprio umbigo. A conversa dele é abilolada. Ele quer decisões políticas. Meu Deus do céu, as decisões não são políticas - disse Virgílio a jornalistas no Congresso. Mas o senador também defende a queda nos juros e chamou o BC de "frouxo" por não ter reduzido os juros para 25% ao ano no mês passado. Para ele, o BC não precisa manter os juros no atual patamar "só porque tem que mostrar que não irá ceder à pressão de ninguém. Pecar por falta de ousadia é pior". Já o senador José Agripino (RN), líder do PFL no Senado, acredita que Alencar é coerente porque repete o que disse na campanha eleitoral e acusou Lula de incoerência. "Lula vendeu uma coisa e faz outra", afirmou a jornalistas. Para Agripino, a decisão do BC é política, com embasamentos técnicos e "já há condições técnicas par baixar". O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), outro defensor da queda de juros, não quis comentar as declarações de Alencar.
Rio de Janeiro, Quinta, 28 de Março de 2024
Alencar quer decisão política para taxa de juros sem pirraça
Arquivado em:
Publicado Segunda, 02 de Junho de 2003 às 15:55, por: CdB
Edição digital