Álbum duplo traz Clara Nunes de volta

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Publicado Segunda, 03 de Novembro de 2003 às 23:03, por: CdB

Confusão de festa errada: desde o fim do último ano anunciavam-se homenagens e homenagens que seriam prestadas a Clara Nunes por ocasião de seus 60 anos, a serem comemorados no dia 8 de agosto deste ano, conforme consta da Enciclopédia da Música Brasileira - durante muito tempo a única fonte sistematizada de informações sobre nossa canção popular.
 
A própria gravadora que teve Clara sobre contrato durante toda a carreira, a EMI, caiu no engodo e anunciou um disco contendo gravações raras e inéditas em CD da cantora. Foi quando o viúvo dela, o poeta e compositor Paulo César Pinheiro, resolveu pôr a boca no mundo.
 
Aquele disco seria um desrespeito a Clara, disse ele. As tais faixas inéditas eram coisas do comecinho da vida artística, quando Clara ainda não era dona de seu repertório. Cantava o que a EMI mandava.

Além do mais, contou Paulinho Pinheiro, Clara não estaria completando 60 anos agora. Havia-os completado em agosto do último ano. A 'Enciclopédia', falha, organizada por Marcos Antônio Marcondes e editada pela primeira vez em 1977, com segunda edição 11 anos depois, sem correção dos erros e ainda com graves omissões, perpetuava a informação falsa.
 
Muitas das homenagens foram canceladas. Mas a EMI, em remissão ainda não realizada, manteve a promessa de repor na praça, em versão digital, os 16 discos de Clara (lançados em CD em um pacotaço, em 1997, de uma vez só e com tiragem reduzida). Não se falou mais do tal disco de falsas raridades.

Outro belo tributo, idealizado por Paulão Sete Cordas, uma das mais importantes figuras do samba contemporâneo, também foi mantido e sai agora com chancela da gravadora carioca Deckdisc. Trata-se do duplo 'Um Ser de Luz', no qual vários grandes intérpretes, antigos e novos, recriam o repertório que Clara transformou em clássico.

Ora, recriar o repertório de uma intérprete parece bobagem - e é, normalmente. Fulana de tal canta Elis Regina - Elis não era autora, e é difícil que alguém cante alguma peça de seu repertório melhor do que ela. O mesmo com Clara, que, até onde conste, não assinou autoria alguma.
 
Mas Paulão lavrou o tento. 'Um Ser de Luz' é um disco magnífico. Que tem a vantagem de confirmar o que quem é bom sujeito já sabe - ao lado de gente como Elton Medeiros, Cristina Buarque, Walter Alfaiate, Monarco, Dona Ivone Lara, Velha Guarda da Portela, ficam bonitos no filme os novíssimos Pedro Miranda, Teresa Cristina, Seu Jorge, Renato Braz, com o reforço das nem tão novas mas não muito conhecidas Rita Ribeiro, Mônica Salmaso, Mart´Nália, para falar de alguns que participam do tributo.

Para lembrar: Clara Nunes nasceu em Paraopeba, Minas Gerais, filha de um violeiro e cantador de Folia de Reis, Mané Serrador. Ficou órfã ainda menina, foi para a capital mineira aos 16 anos, fez curso normal - para ser professora -, com auxílio financeiro dos irmãos e, em 1960, venceu a etapa mineira do concurso A Voz de Ouro do ABC, cantando a 'Serenata do Adeus' letra e música de Vinicius de Moraes.
 
A final do concurso foi em São Paulo. Clara ficou em terceiro lugar, cantando outra canção de dor-de-cotovelo, 'Só Adeus', de Jair Amorim e Evaldo Gouveia.

Morena belíssima, com sangue negro, índio e português em mistura de fórmula perdida, Clara começou no rádio. Mas a televisão logo se apaixonaria por ela. Depois do concurso, foi contratada pela Rádio Inconfidência, de Belo Horizonte. Comandou programa e pulou de lá, 18 meses depois, para a TV Itacolomi. Caminho natural, foi para o Rio em 1965 e assinou em seguida contrato com a EMI, na época chamada Odeon.

O primeiro disco não era bom. Saiu em 1966. Chamava-se 'A Voz Adorável de Clara Nunes'. Só dois anos depois Clara conseguiria firmar-se como cantora de samba, de afoxés, de pontos de umbanda, das coisas de negro e índio que desenham a personalidade musical brasileira.

O primeiro sucesso veio, em 1968, com 'Voc

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