Adeptos do Santo Daime recebem terras do Incra

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Publicado Sábado, 05 de Novembro de 2005 às 16:33, por: CdB

Cerca de 150 famílias seguidoras da doutrina do Santo Daime serão reconhecidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) como assentadas nos municípios do Pauini e Boca do Acre, no Amazonas. Elas vivem na Floresta Nacional do Mapiá-Inauini desde 1983 e, por meio de um convênio entre o Incra e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), estão agora sendo cadastradas para receber o crédito apoio-instalação. A verba deve começar a ser distribuída em março de 2006, segundo o superintendente regional do Incra, João Pedro Gonçalves. Segundo ele, são R$ 2.400 para comprar alimentos e equipamentos de trabalho e R$ 5 mil para construir uma casa.

- Nós estamos esperando, porque nossos filhos estão todos casados e não têm casa. É muito triste isso para a mãe, eu sinto - desabafou a agricultora Francisca Carvalho dos Santos.

Ela contou que nasceu em Pauini e se mudou para a Floresta Nacional há 15 anos. Demorou três anos até provar o chá do Santo Daime e se tornar uma seguidora da doutrina.

- Me dava vontade de beber, mas meu marido não queria nem ouvir falar nisso. Um dia ele viajou e eu fui. E graças a Deus estamos na doutrina até hoje, é ela que nos dá força para trabalhar - revelou.

Francisca vive da agricultura de subsistência, baseada na produção de farinha de mandioca (chamada de macaxeira, na região).

- Tenho uma mãe que é aposentada e uma filha que mora no Rio de Janeiro e manda umas coisinhas de lá. A situação é difícil - acrescentou.

José Antônio Camilo também recebeu com alívio a notícia de que ia ser beneficiado pela política de reforma agrária.

- A gente vive aqui há anos, mas não tem documento da terra. Um dia aparece alguém e pode nos expulsar. Eu só quero a garantia de que isso não vai acontecer - declarou.

Foi trabalhando em um garimpo no rio Madeira, em Rondônia, que José ouviu pela primeira vez falar sobre a comunidade do Santo Daime.

- Eu era jovem e muito curioso. Comecei a andar e demorei quantro anos para chegar aqui. Encontrei o padrinho Sebastião. O movimento dele, depois do Daime, era a agricultura. Era plantar milho, arroz, feijão - contou.

O padre Sebastião Mota de Melo foi seguidor do mestre Irineu Serra, criador do Santo Daime. Foi o "padrinho Sebastião" quem organizou a Colônia dos Cinco, em 1980, no rio do Ouro, também em Boca do Acre. Como ocupavam uma área particular, por orientação do próprio Incra, em 1983 os cerca de 300 moradores se mudaram para a região do Mapiá. A área de 311 mil hectares se tornou Floresta Nacional em 1989.

Mapiá

O reconhecimento dos moradores do Mapiá, seguidores do Santo Daime, como assentados, foi solicitado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já em 1983, quando surgiu a comunidade. É o que mostra um documento arquivado na representação do Incra neste município do interior do Amazonas. Em 1989, a área onde a comunidade está localizada virou uma Floresta Nacional e só agora, a partir de um convênio entre o Incra e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), as 150 famílias que vivem na região estão sendo cadastradas no Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária (Sipra). Em março do ano que vem, elas devem começar a receber o crédito apoio à instalação, no valor de R$ 7.400.

O documento "Anteprojeto de Assentamento do Igarapé do Mapiá - Gleba Puruini" relata o nascimento da doutrina do Santo Daime, na década de 30. De acordo com o texto, em 1912 o maranhense Irineu Serra mudou-se para o Acre para trabalhar como soldado da borracha. Na fronteira com o Peru e a Bolívia, ele conheceu o chá preparado com o arbusto chacrona (a "rainha") e o cipó jagube, uma bebida alucinógena consumida por descendentes do Império Inca. Da mistura desse ritual indígena com o cristianismo nasceu a doutrina do Santo Daime, que tem como valores a "harmon

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