1871: "Aída" estreia na Ópera do Cairo

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Publicado Sexta, 24 de Dezembro de 2010 às 06:35, por: CdB

Os descobrimentos arqueológicos nas terras banhadas pelo rio Nilo, no final do século 19, desencadearam um espécie de egiptomania na Europa. Esse fascínio pelo país dos faraós encontrou sua apoteose musical na ópera Aída.

Nessa época, crescia também a influência europeia no Egito, marcada pela construção do Canal de Suez. Em 1869, Ismael Pasha, vice-rei egípcio, encarregou o egiptólogo Auguste Mariette de encomendar a Giuseppe Verdi a composição de uma ópera para a inauguração do Teatro Real do Cairo durante as festividades de abertura do canal.

Verdi, porém, não entregou a ópera no prazo previsto (Pasha contentou-se com uma apresentação de Rigoletto) e o mundo teve que esperar até o Natal de 1871 pela obra monumental do compositor italiano.

Unidos na morte

A trama se desenrola no antigo Egito, tendo como personagem-título uma escrava etíope que serve à filha do faraó, Amneris. Aída apaixona-se pelo jovem guerreiro Radamés, comandante dos exércitos do pai da escrava, que promete resgatá-la do cativeiro. Por suas proezas de guerra, Radamés conquista a mão de Amneris, que vê uma rival em Aída.

Ao revelar, acidentalmente, um segredo militar, Radamés é acusado de traição e condenado a ser enterrado vivo, sem que Amneris possa impedir a execução da pena. Aída, que supostamente teria escapado com seu pai, surge das sombras da câmara mortuária de Radamés para compartilhar seu triste destino. Assim, um drama que poderia ter um tom nacionalista transformou-se na história dos amantes que, acima de todas as paixões, têm a sina de perpetuar seu amor, ao compartilhar a passagem ao mundo dos mortos.

A ópera baseou-se num texto do próprio Mariette, reescrito por Camille Du Locle e transformado em libreto pelo italiano Antonio Ghislanzoni. Verdi compôs a música em apenas quatro meses. Ajustada à estrutura tradicional da época, em quatro atos, Aída não é uma epopéia dos feitos militares do Egito. Apesar dos cenários grandiosos e triunfais, a obra conserva também um caráter íntimo, ao falar do indivíduo e de suas paixões.

A estreia no Cairo já estava prevista para janeiro de 1871, mas foi impedida por conflitos internacionais. Como a França estava em guerra com a Prússia, os figurinos e cenários, produzidos na Paris sitiada, demoraram quase um ano para chegar à capital egípcia. Apesar do atraso, Aída teve uma excelente repercussão junto ao público e à crítica. Em 1872, foi levada para Milão, iniciando um triunfo que dura até hoje.

Uma vida a serviço da ópera

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Giuseppe VerdiGiuseppe Verdi foi o mais famoso compositor italiano de óperas e um dos principais expoentes do canto lírico mundial. Nascido em 9 – ou 10 – de outubro de 1813, filho de um dono de albergue em Parma, teve formação autodidata. Em 1839, já estreava no Scala de Milão com Oberto. Seus primeiros sucessos de público foram Ernani, baseada em Victor Hugo, Joana d'Arc, Átila e Macbeth, na qual investiu um ano de intenso trabalho.

Durante temporadas em Londres e Paris, compôs suas obras de maturidade O trovador e La Traviata, de êxito mediano na época, mas que se tornariam clássicos. Após haver ter feito carreira como grande trágico, o autor de 27 óperas surpreendeu o mundo em 1893 com uma incursão no mundo da comédia. Contando 80 anos de idade, apresentou a hilariante e profunda Falstaff, baseada em As alegres comadres de Windsor, de William Shakespeare. Ao falecer em Milão, em 1901, Verdi era um dos grandes heróis nacionais italianos.

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